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The Temple em entrevista
The Temple em entrevista

The Temple em entrevista

Texto: Margarida Salgado

Fotos: Davi Cruz/Metal em Portugal

Estivemos à conversa com The Temple após a sua atuação no Festival Laurus Nobilis Music Famalicão 2018.

 

SR: Então expliquem lá como é que tudo começou?

 

Rui Alex: Isso é muito simples de responder. Há uma coisa comum em todas as bandas. Ter uma banda é uma coisa complicada e por isso é preciso estares realmente apaixonado pela música. Toda a gente gosta de música, mas há pessoas que são mesmo apaixonadas por música e isso nota-se logo desde cedo. A pessoa adora música, passar horas e horas a ouvir os álbuns, a ver as capas, a ler as letras... isso não acontece a toda a gente. E mais tarde ou mais cedo uma pessoa que é apaixonada por música começa a pensar em ter uma banda. Um gajo não resiste em ter uma banda. Com qualquer pessoa que fales de uma banda o ponto comum a todas é ficarem horas e horas a falar sobre música.

 

SR: E como se encontraram?

Rui Alex: Epá... fomos nos encontrando. Um conhece aquele que conhece o outro... um amigo que tem um amigo ou que conhece um amigo...

Marcelo Costa:  A verdade é que esta formação já tem anos e anos...Neste momento houve uma união do Rui com o João, depois entrou o Tiago que já tinha tocado comigo há bué anos e sugeriu o meu nome e mais tarde também o do Pedro.

Tiago Menaia: É muito importante a parte pessoal. Não é só o tocar bem ou tocar mal... é obvio que tem que ser...

Rui Alex: Que têm que ser muito bons

Tiago Menaia:  Claro, o céu é o limite. Mas também é muito importante a parte pessoal, o que conseguimos construir entre nós de companheirismo, de cumplicidade. Se assim não fosse o resultado também não seria o mesmo e nós também não sentiríamos a satisfação que queríamos daquilo que estamos a fazer.

Joao Luis: Por isso é que muitas vezes estamos em palco e nem é preciso falar nada.

 

SR: Acham que o público sente isso?

Marcelo Costa: O público sente. O público sente a verdade da banda. Quando estamos em palco aquilo que fazemos é a verdade de cada um, ou seja, a ligação que temos com cada membro da banda expresso ali. É o que damos às pessoas.

Joao Luis: É sobretudo humildade e sermos genuínos. Não há nada ensaiado, tudo o que falamos com o público é espontâneo.

Rui Alex: No palco apanham-se muitas coisas. Nós achamos que estamos só a tocar e a fazer aquilo que gostamos, mas o pessoal apanha essa cumplicidade essa forma de estarmos que já é muito nossa, e já nem damos conta.

Tiago Menaia: Nós temos uma teatralidade natural que surge da adrenalina.

Joao Luis: Se eu sei por exemplo que o Tiago vai fazer uma cena fixe com a guitarra eu vou ter com ele para viver esse momento.

Rui Alex: Às vezes acontecem algumas coisas nos ensaios que ficam como uma espécie de private jokes e que depois repetimos em palco a relembrar o momento.

Joao Luis: Às vezes faz-me lembrar um casamento. Lembras-te quando vais para a igreja, lembras-te dos 538000 beijos, lembras-te de um momento no copo-de-água e depois de repente estás em casa. São 3 momentos: é a entrada em palco, é a adrenalina a disparar, depois é aquele momento que chamaste à atenção o que alguém chamou à atenção e acaba de repente, já é o último tema. São aqueles flashes, é uma viagem alucinante. E isto acaba sempre por alimentar o querer mais, o querer voltar a viver aquele momento.

 

SR: Como caracterizam a vossa sonoridade?

Tiago Menaia:  Muito boa!

Rui Alex: Nós somos muito radicais nesse especto, gostamos todos de música deste género, mas não há uma sintonia.

Marcelo Costa:  Isto é o abraçar do gosto de toda a gente sendo que depois há uma palavra final.

Pedro Marques: Toda a gente ouve música diferente, mas toda com atitude e isso nota-se no concerto. Tens um fio condutor que é o rock e depois tens outras variantes... metal, punk, hardcore...

Joao Luis: Eu digo que isto é rock pesado e depois cada um entende o que quiser. Já nos classificaram de crossover, nu metal... Isso tem a ver com um lado quererem etiquetar e por outro lado quererem se identificar com qualquer coisa que já tenham referências.

Rui Alex: Uma coisa que é importante na caracterização da banda e acho que é uma qualidade que nós temos é o não ser fácil alguém ouvir-nos e dizer que estamos a ir, atrás daquela banda ou da outra, que é algo que consegues fazer nas bandas que principalmente estão a começar. Tu rapidamente consegues perceber o que estão a tentar fazer ou a tentar ser. A originalidade é uma coisa muito importante na arte e na música e que eu valorizo muito. E isto é um som tipicamente metal, tipicamente rock, um bocado “apunkalhado” às vezes, mas que não é parecido com banda, nenhuma.

Marcelo Costa: O nosso som tem uma dinâmica própria. Nós não estamos sempre no “grito”, nem fazemos baladas, temos esta dinâmica do heavy metal e da descarga emocional acrescentando um pouco mais sentimento. Não tem que ser sempre no red line. Nós conseguimos baixar. É aquilo a que eu chamo de “fofice”. Nós conseguimos ser uma banda agressiva, com atitude, com algo para dizer, mas depois também ter o lado “fofinho”, o outro lado da moeda. E isso também nos torna diferentes.

 

SR: Como funcionam em termos criativos?

Joao Luis: A base e a espinha dorsal da parte criativa é o Rui. É claro que depois as coisas são trabalhadas e inevitavelmente vai ficando o nosso cunho pessoal no processo. Tanto na parte da pré-produção, como na de gravação e os arranjos que são feitos, acaba por haver toda uma roupagem que já vem de todo o estilo do grupo.

 

SR: E em termos líricos?

Joao Luis: Também é o Rui.

Tiago Menaia: O Rui é o esqueleto e nós a carcaça.

Rui Alex: Eu não acredito muito em coisas compostas em conjunto porque criar é uma coisa muito pessoal, em certa medida, pelo menos assim na essência da coisa. A minha conceção de música é um bocado punk e nesse aspeto a expressão que dás depois quando materializas a música é muito importante. E a expressão tanto a tocar guitarra como a cantar muda tudo. Mas também já componho muito conhecendo a forma de tocar e cantar de todos. Mas também te digo que já pus as minhas ideias de músicas todas nos álbuns e não tenho mais ideias nenhumas e não quero fazer mais músicas. Para mim está feito, está resolvido. Agora estou mais interessado em experimentar coisas de outro género. Agora estou mais tentado em brincar a esta cena mais conjunta, mais espontânea. Também confio nas capacidades do pessoal e até há algumas ideias interessantes...

 

SR: E já há trabalho novo?

Joao Luis: Ainda não, mas estamos a pensar nisso. Ainda hoje vínhamos a falar nisso na viagem.

Rui Alex: As pessoas que nos conhecem sabem que gostamos de fazer as coisas com tempo e com calma.

 

SR: Porque decidiram ir gravar a Londres?

Rui Alex: Porque em relação ao primeiro álbum queríamos fazer um álbum mais rock e mudar um bocadinho a textura da música e algumas coisas e não há melhor que Londres para o rock.

Joao Luis: Sim, na altura foi mesmo em termos de ambiente e contexto e até porque em termos de custos ficou ela por ela. Mas sendo Londres uma cidade cosmopolita carregada de influências acabou inevitavelmente por nos influenciar também. Entravas por exemplo num bar e davas conta de uma jam com o baixista de Judas Priest, com o guitarrista de Iron Maiden, com sei lá mais quem que estavam ali por acaso a beber umas pints e tudo a assistir na boa.  Acho que todos nós tivemos uma fase quase de depressão quando voltamos depois de termos estado 5 semanas a gravar porque não há esta dinâmica de viver o rock & roll underground.

Rui Alex: É diferente ires para um sítio e estares a gravar do que estares a gravar e depois vais para casa e tens a tua vidinha e depois vais gravar outra vez... Nós fomos para lá e estivemos a viver todos juntos numa espécie roulotte. Mesmo a viver essa experiência e passa-la para o álbum e correu muito bem.

 

SR: Porquê The Temple?

Rui Alex: Queríamos um nome simples, básico e que soasse bem. Uma cena mais clássica.

 

SR: Há diferença do feedback do publico português do restante?

Rui Alex: É verdade que somos mais conhecidos aqui, mas o publico é igual em todo o lado.

Tiago Menaia: Há ali um momento na primeira música em que fica tudo apático e parado a absorver o que se está a passar. Mas depois entram na onda e pronto... acabam por se render aos nossos encantos.

 

SR: Quando é o próximo gig?

João Luis: SOUL Rising FEST no dia 13 Outubro no Sfia Almadense

 

SR: Qual a mensagem que gostariam de passar para o público como banda?

Joao Luis: Energia, empatia, sinergia.

Pedro Marques: Eu acho que quando estamos em palco e é isso que transparece que mostramos que estamos a fazer aquilo que gostamos e nos sentimos bem e acaba por ser uma comunicação de entrega- resposta.

Tiago Menaia: Eu acho que é pensar o mínimo possível e sentir o máximo possível.

Rui Alex: Nós tocamos música essencialmente intensa e o que sinto é tocar com a máxima intensidade e respeitar a música nesse espírito.

Marcelo Costa: Intensidade tem que ter um propósito e o meu propósito é amor e partilha. Eu estou no palco e estou quase sempre a rir.

Rui Alex: Eu estou lá em cima e só me apetece partir aquilo tudo.

Marcelo Costa: Eu quero chegar lá e dar amor a toda a gente.

 

SR: Obrigada!