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Entrevista NEW MECANICA
Entrevista NEW MECANICA

Entrevista aos NEW MECANICA

Texto: Margarida Salgado

Foto: Facebook da Banda

Do Barreiro, a banda NEW MECANICA lança o seu álbum de estreia “LOVE & HATE” em 2008. O álbum foi produzido por Daniel Cardoso (Anathema, Headcontrol System) e pela banda e foi lançado pela Casket Music / Copro Records. O vídeo "Lonely" (dirigido por Vítor Guerreiro e Afonso Pimentel) tocou repetidamente no programa "Headbangers Ball" na MTV portuguesa.

Em 2015, a banda lançou seu segundo álbum “NO STRAIGHT LANE”. Foi produzido pela banda e mixado / masterizado no The Pentagon AM Studio por Fernando Matias ([F.E.V.E.R.], Sinistro).

O 3º álbum “VEHEMENT” será lançado em 2018, mixado / masterizado no WRecords Studio por Wilson Silva (More Than a Thousand).

SR: De que forma é que o Barreiro influenciou a constituição da banda?

 Pepe: Acho que influenciou bué. Teve bastante influencia. A cultura que se vive aqui… A banda surgiu em 98 e foi uma altura em que o Barreiro estava apinhado de bandas. E nós fomos uma das que rebentou nessa altura, há 20 anos, (portanto nós tínhamos para aí 8 ou 9 anos). Na Margem Sul na altura era Almada e Barreiro carregadas de bandas e muita gente vinha de Lisboa para aqui.

 Dinho: Sim, até salas de ensaios havia muitas sítios para onde as bandas iam com condições.

 

 SR: Sendo todos da zona já se conheciam?

 PH: Não, por acaso é curioso o Dinho ter falado nisso porque eu conheci-o porque trabalhava num estúdio.

 Pepe: Basicamente foi assim. Nós íamos ensaiar ao Muxagata no Barreiro ou ao Octávio, o Tim-tim no Barreiro também. O PH trabalhava lá, o Ricardo Reis também e chegou a tocar bateria connosco e a determinada altura precisámos de um baixista e falámos com o PH. Entretanto o André e Bunny também ensaiavam lá e muitas vezes cruzávamos e fomo-nos conhecendo assim.

 

 SR: A alteração do nome inicial da banda de Reset para New Mecanica também foi influenciado pela zona?

 Pepe: Foi quando saiu o Love& Hate e quando eu também entrei para a banda. Na altura já havia um registo internacional de uma banda chamada Reset e surgiu a necessidade de trocar de nome e fizemos uma conferência sobre os nomes e ficou New por ser um novo nome e Mecanica por sermos aqui desta zona industrial.

 

 SR: Quais as maiores diferenças para vocês dos álbuns anteriores para este no aspeto criativo e das influências?

 Pepe: Depois de sair o Love&Hate houve algumas alterações na banda que levou a que precisássemos muito mais tempo para começar a compor novamente e a preparar o segundo álbum. Do segundo para o terceiro já foi mais rápido, os elementos são os mesmos.

 André: Aliás há 3 ou 4 temas deste novo álbum que ainda é trabalho do álbum anterior e que só não entraram na altura porque ainda não estavam no ponto.

 Pepe: Este álbum acaba por ser uma continuação do anterior. Há uma diferença de sonoridade do primeiro para os últimos, porque os elementos eram outros e por isso as influências também. Estes dois últimos estão mais coesos, encaixam bem. Se tocarmos temas dos dois álbuns num concerto não destoa enquanto que se tocarmos do primeiro álbum já fica mais demarcado.

 André:  Para além de soar a New Mecanica. Em termos de referências não pensamos muito nisso, apenas fazemos música. Tentamos fazer com que as coisas fiquem coesas e como dissemos há bocado de um álbum para o outro é um seguimento, mas não pensamos antes de fazer as músicas de definir um estilo mais característico. Não pensamos nisso. Vamos fazendo as malhas e depois de termos uns quantos temas feitos aí é que se calhar separamos alguns temas que possam não fazer muito sentido naquele grupo de malhas, mas basicamente é muito espontâneo.

 

 SR: Mesmo em termos líricos?

 Dinho: Basicamente a inspiração e as ideias têm tudo a ver com aquilo que assistimos e vivemos no dia-a-dia. Recolho muitas ideias com base nos acontecimentos que vão seguindo o seu caminho.

 Pepe: Portanto a maior parte das músicas é sobre ir para Lisboa de barco.

 Dinho: Estás a brincar, mas no álbum anterior há um tema em relação a isso. Às vezes faz-me um bocado confusão, na altura das greves e isso aquele caos todo das pessoas a empurrarem-se… Mas empurrar para quê?...

 PH: É o Play The Madmen. E é uma boa letra. Gosto bastante dessa música.

 Dinho: Mas muitas das coisas que foram escritas neste álbum incluindo o single “Lost Paradise” tem muito a ver com o futuro. Com aquilo que provavelmente irá acontecer porque não vejo as coisas numa boa perspetiva, numa perspetiva com um futuro muito risonho e a maior parte das músicas foram escritas com base nisso. E apesar de eu não ver as coisas com uma perspetiva muito boa ainda há lá sempre uma coisinha a dizer: ok, pode ser que isto funcione. Neste álbum foram todas escritas por mim exceto “Chronophobia” que foi escrita pelo Pepe que teve a primeira participação lírica. O que até gostei porque às vezes tenho aquela sensação que me estou a repetir muito e é bom ter outra pessoa que varie um bocado a coisa e que não soe sempre ao mesmo.

 

 SR: E a composição musical?

 PH: Isso é mais com os guitarristas.

 André:  Isto é muito trabalho de casa. Trabalhamos em casa, apresentamos e a malta vê se funciona. É simples, não tem nada de mais.

 

Dinho: Há uma coisa muito importante na nossa banda e sempre funcionou assim, se calhar nalgumas alturas nem tanto, mas principalmente ultimamente tem funcionado assim que é a maior parte das ideias surgem pelas guitarras, o baixo às vezes também trás, a bateria também pode fazer uma ideia ou outra, mas normalmente os guitarristas é que trazem as suas ideias e fazem o  trabalho de casa, apresentam uma ou outra ou uma sequência e depois nós aqui é que acabamos de criar o “bolo” ou seja a música em si acaba  por ser criada por todos aqui. Não a final, porque depois obviamente quando começamos a gravar as coisas damos alguns retoques. As coisas gravadas às vezes soam diferente daquilo que é ensaiado aqui. São pequenos pormenores que se vão acertando, mas a base da composição é toda feita aqui no estúdio. As músicas todos nós temos que gostar delas. Se há alguém que diz “eu não gosto de tocar esta parte” ou “não gosto como soa” nós tentamos mudar, porque depois vamos toca-las muitas vezes, vamos ensaia-las muitas vezes. Por isso acho que este álbum está melhor do que os anteriores.

 PH: Também acho!

 

 SR: Porquê “Vehement” (veemente)?

 André:  Pela sonoridade. Acho que o álbum é forte. Na altura pensei… estava a tentar arranjar nomes que fizessem sentido… Pensei no nome e no tipo de capa também que fizesse sentido. Eu gosto de estar a ouvir um álbum e olhar para o álbum e fazer sentido com o que estou a ouvir, basicamente é isso.  Não tem a ver com o sentido que o Dinho põe nas letras das músicas, mas é mesmo no sentido geral que é ao que o álbum soa. Soa poderoso, soa energético e casar isso com a capa também. Porque não um animal? Um animal possante, um animal perigoso e neste caso escolhemos o gorila.

 

 

SR: Dos 10 temas do álbum quais os vossos preferidos ou que gostam mais de tocar?

 PH: Eu tenho uma! A minha é a “Two Worlds”. A que me dá mais prazer tocar.

 André: A minha é o segundo single, o “Lost Paradise”.

 Bunny: Uma das músicas das músicas que ao princípio fiquei de pé atras e hoje em dia é das que mais gosto é a “Two Worlds” também. Quando começamos a compor eu disse: Epá, vocês são malucos, não façam isto… Como é que a gente vai tocar isto? Hoje em dia depois de todo o processo evolutivo que essa malha teve chegamos a um ponto, (eu nomeadamente) de dizer: Isto está muito bom!!

 Pepe: Para mim é um bocado suspeito, mas é “Chronophobia”. É aquela que sinto como o meu “bebé”. Mas também gosto muito da “Two Worlds”. E a última música do álbum “Journey” que ainda não a vamos apresentar ao vivo porque ainda não está no ponto, mas é capaz de ser a maior música que fizemos até agora e a mais complexa também e tem que ser muito bem reproduzida ao vivo é uma música que é brutal. A música quando for tocada ao vivo acho que vai ser fantástica, mas requer bastante trabalho.

 Dinho: A primeira, “A second”. É direta, “in your face”.

 Pepe: A “Journey” a própria música em si é uma viagem. Tem várias partes, segue vários caminhos. Essa foi mesmo composta aqui. Foi bué batalhada aqui.

 André: Essa música foi feita aqui no estúdio. Eu e o Pepe viemos para aqui os dois tivemos umas ideias e depois como banda fizemos o resto. Não foi feita em casa. Combinamos viemos para aqui os dois e fizemos parte da música. Antes disso já tinhas a ideia que era o refrão com a guitarrinha… e depois fizemos o resto. Foi uma música pensada de maneira diferente. A forma de compor não foi a nossa forma normal.

 Pepe: E depois temos uma música que nasceu depois disto tudo que é o nome do álbum “Vehement”. Essa também vai ser difícil tocarmos ao vivo porque é música de ouvir não é música de concerto, pelo menos num concerto nosso. Talvez algum dia faça sentido toca-la, mas tem uma estrutura diferente. Aliás todos os álbuns têm uma música assim. No primeiro é a “You & I” que é só voz e piano, no segundo tem a  “Offspring” que é acústica e nunca foi tocada ao vivo e a “Vehement” também vai ser difícil.

 

André: Mas a escolha do Dinho tem muito a ver com o segundo álbum. É daquelas malhas que “cheira” ainda ao segundo álbum. Se há malhas neste álbum idênticas esta talvez seja uma delas.

 

 

SR: Como surgiu a parceria com a Wormholedeath e a Orchard?

 Pepe: Quando acabamos de gravar o álbum tínhamos algumas hipóteses de o lançar e decidimos apostar um bocadinho mais lá fora. Não é que tenhamos a ambição de correr o mundo em tournées e essas coisas, até porque já se torna muito complicado para nós nesta fase da nossa vida, mas pelo menos colocar a nossa música lá fora. Para chegar mais longe e a mais pessoas. A Wormholedeath foi o contacto que nos propôs as melhores condições para o que ambicionávamos porque vão fazer edição física na Europa, no Japão e nos EUA. E depois toda a distribuição digital pela Orchard.

 Dinho: Nós decidimos arriscar com eles. Até agora temos tido uma boa comunicação, um bom feedback, mas só vamos perceber melhor quando o álbum sair. Agora ainda está tudo a “marinar”.

 

 

SR: Quando irá ser a apresentação?

 André: A data oficial de lançamento será dia 26 de Outubro, mas iremos fazer um pré-apresentação do álbum no Gasoline ACD, no Barreiro, no dia 20 de Outubro. As portas abrem ás 22h e às 22:30h iniciará com Legacy of Cynthia. É um sítio recuperado do Barreiro, o El Matador que funcionava bem nos anos 90. Fica ao pé do Motoclube do Barreiro e em frente à escola Alfredo da Silva. Os bilhetes serão comprados à porta com direito a pré-cd.

 Dinho: Foi onde a banda tocou pela primeira vez ainda como Reset.

 Pepe: Só um aparte. A associação chama-se assim porque foi um grupo de malta que meteu na cabeça como passa ali o catamaran surfarem a onda do barco. E andaram a estudar as marés e altura em que o barco passa e a conjugação com a altura da maré e a hora de ponta que o barco vai mais cheio e mais rápido para surfar essa onda que é a Gasoline.

Em relação ao evento, estamos e vamos fazer tudo o que podermos e investir tudo o que podermos para ser uma noite boa, principalmente para o público que nos vai ver e esperemos que a adesão seja boa e que corra bem.

 André: Também estamos a tentar ter condições a nível de som, de luz, PA’s para que também nesse aspeto corra tudo bem.

 

SR: Como é voltar ao sítio onde tudo começou?

PH: É bom. Já lá tocamos há pouco tempo com condições piores do que as que vamos ter agora, na inauguração e correu bem. Toda a malta do Barreiro foi lá tocar e nós fomos também.

 Pepe: Sentimos o peso da responsabilidade não por ser no Barreiro, mas por querermos fazer o melhor possível. Queremos que o publico que se quer deslocar de outros sítios e que venham de transportes por exemplo estar à vontade com a hora a que vai acabar o concerto para terem tempo. Mas iremos dar toda a informação.

 

 SR: Qual a mensagem que gostariam de deixar para o público? O que vos faz insistir?

 

André: Que sejamos um exemplo para outras bandas mais recentes. Este país não é muito recetivo à nossa sonoridade, mas nós gostamos de tocar e o nosso objetivo realmente é tocar. Tocar com boas condições, em sítios que levem gente. E o que queremos transmitir é que seja isso, que vale a pena pela boa música e por fazer as coisas bem.

 Pepe: Para mim o que me dá mais retorno e prazer é saber que alguém possa sentir o que eu já senti ao ver as minhas bandas preferidas. Aqueles concertos que vais ver e estás a meio do concerto e há qualquer coisa naquela música que te arrepia. E acordas no dia a seguir e pensas: grande concerto! Se houver pessoas a sentir isso a ver um concerto nosso, para mim é objetivo cumprido. O resto é bónus.

 Dinho: O mais importante é haver pessoas que gostem da nossa música, que oiçam a nossa música, que curtam a nossa música. É isso que nós queremos e é para isso que trabalhamos.

 Bunny: Falta aqui um pormenor que é bué guita, mas estamos no país errado. O nicho do nosso som sempre foi muito restrito e hoje em dia é cada vez mais. A nossa batalha é precisamente o que o Pepe e o André disseram que é mostrar o nosso trabalho. Isto é trabalho, dá muito trabalho. São horas e horas enfiados aqui dentro, mas isto funciona. Funciona como equipa, amor à camisola e trabalho e é esse trabalho que queremos mostrar ao público.

 PH: Foi o que o Pepe disse. Tentar transmitir aquele sentimento a alguém. Tentar que alguém fique hipnotizado pelo som, absorvido por aquilo.

 

 

SR: Obrigada.