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HOURSWILL em entrevista a Margarida Salgado
HOURSWILL em entrevista a Margarida Salgado

HOURSWILL em entrevista

Foto: Internet

Texto: Margarida Salgado 

SR: Expliquem um pouco como começaram os Hourswill?

José Bonito: Nós iniciamos as nossas atividades como banda por volta de 2009, que foi quando conseguimos reunir os 5 elementos necessários aquilo que nós consideramos ser uma banda de rock ou de metal e em que os nossos objetivos eram simplesmente fazer musica baseada naquilo que são os nossos gostos pessoais, musicais e influencias, neste caso eu e o Nuno Peixoto. Depois conseguimos congregar os restantes elementos da banda e começamos a funcionar em 2009 e temos feito o nosso percurso desde aí. Não tínhamos grandes objetivos, nem grandes planos até porque foi difícil completar o line-up da banda. E depois disso fizemos as nossas apresentações ao vivo, para ver como corriam as coisas e como é que o material soava ao vivo com aquilo que já tínhamos composto na altura e chegamos até aqui. Não traçamos assim nenhum grande plano, as coisas foram acontecendo e fomos fazendo gravações e fazendo experiencias e editamos o nosso primeiro disco em 2014 “ Inevitable ” e agora o nosso novo álbum, “ Harm Full Embrace ”.

 

SR: Quais são as vossas influencias?

Pedro Costa: Não são os Nevermind, ao contrário do que toda a gente diz. É engraçado porque toda a gente nos compara com eles.

José Bonito: Isso é sem dúvida um estigma que existe…

De um modo geral, o heavy metal ou o metal e o hard rock dos anos 80/ 90, essas são as mais proeminentes. O nosso gosto é muito amplo, mas está muito assente nesta linha desde que iniciamos o projeto. Também vai de coisas dos 60/70s. Basicamente gostamos de ouvir boa música. Há um fio condutor da musica em si, mas as influencias são muitas. Nós já andamos a ouvir musica há muitos anos e isso de forma indireta ou inconsciente vai-se refletir sempre naquilo que vais fazendo, não é uma coisa tão linear para estar aqui a definir bandas. Até porque hoje em dia as coisas estão tão diversificadas. Eu sou do tempo em que a musica tinham 3 ou 4 coisas definidas mais ou menos e as bandas estavam todas enquadradas dentro de um certo estilo. Agora não, agora existem géneros e subgéneros…  É logico que uma banda com a nossa proposta de estilo musical, o nosso tipo de som, hoje em dia não é muito comum e por isso somos muito conotados com o progressivo e um metal assim mais esquisito e esse tipo de coisa, que é um rotulo que a gente até nem gosta muito de aplicar. Não temos essa necessidade. Porque nós vamos mais pelo espirito da coisa, com o não ter barreiras no que toca à formula musical. Se gostamos de um determinado tipo de onda que nos vá parecer fresca em relação aquilo que fazemos nós aproveitamos, não temos problemas com isso. Por isso é que as influencias a nível musical são muito diversas e todos nós ouvimos musica diferente uns dos outros e isso depois acaba por ir convergindo naturalmente.

 

SR: Quais são as principais diferenças para vocês entre os dois álbuns, para além das alterações dos membros da banda?

José Bonito: A grande diferença são logo os elementos. Mudamos 3 elementos e acho que a principal diferença é essa mesmo, mudaram as pessoas. Em relação à musica e ao género que fizemos no primeiro disco acho que é uma evolução natural daquilo que já tínhamos feito primeiro trabalho. Assim sendo é logico que as pessoas novas que entraram novo trouxeram a sua própria dinâmica, a sua própria maneira de ser e de tocar e isso também influencia certos aspetos. Agora a identidade da banda que já tínhamos no primeiro disco acho que não mudou. Foi uma evolução porreira daquilo que já tínhamos feito. Desta vez congregamos ainda mais coisas que gostamos, ainda mais influencias ao nosso som. Influencias essas que já tínhamos no primeiro álbum, mas, que neste deixamo-las mais fluir. Este disco é mais fluido nesse aspeto. A entrada das pessoas novas refresca um pouco a coisa, mas a identidade da banda mantem-se. A identidade musical manteve-se, está intacta. Apenas evoluímos e subimos mais uns degraus daquilo que é a nossa musicalidade. Esta é a perspetiva de quem já estava na banda de inicio.

 

SR: O que levou à reestruturação da banda?

José Bonito: Coisas normais que acontecema vida, basicamente é isso.

 

SR:  Dão-te liberdade Pedro?

Pedro Costa: Toda, completamente. O desafio interessante é utilizar essa liberdade criativa mantendo a linguagem que já existia. Existe uma linguagem que é a orgânica da banda e depois é enquadrar a visão de cada um.

 

SR: Como tem sido a receção do novo álbum Harm Full Embrace?

José Bonito: O álbum saiu há 6 meses e as reações continuam a ser positivas ao trabalho, mas ainda temos um longo percurso para caminhar. Ainda estamos à espera de respostas mais efetivas de coisas que enviamos, mas a receção tem sido boa.

 

  1. Como reagem às criticas?

Nuno Peixoto: Nós levamos as criticas a sério. São para levar a sério, mas também não temos tido criticas más. Tivemos uma menos positiva, mas não levamos muito a peito, porque no geral as outras criticas têm sido reconfortantes.

Pedro Costa: Sim, porque a maioria delas tem sido muito positiva e faz com que sintamos que o álbum foi de encontro aquilo que procuramos. E depois todas as opiniões são opiniões…

José Bonito: Tu tens duas maneiras de visionar isto que é: para a banda e pessoalmente. Para a banda obviamente que qualquer espécie de critica e exposição que tenhas é bom, no meu caso, pessoalmente falando, eu não ligo. É importante que falem da banda, bem ou mal, mas para mim como pessoa é irrelevante porque não modifica absolutamente nada aquilo que é o nosso objetivo, na minha opinião pessoal. É logico que é sempre melhor se a música que fazes for bem-recebida. Há tanta coisa e tanta opinião. Existe agora o fenómeno da opinião gratuita, em que é opinar mesmo que não saibas o que estás a falar que é muito comum, alias que é o mais comum. Toda a gente está sujeita a isso.

Pedro Costa: Em ultima analise, seja qualquer for o campo de criação artística, uma opinião é uma opinião. Cada um acha o que acha, cada um gosta ou não … é bom quando, de modo geral, a opinião é positiva, mas todas as opiniões são isso, uma opinião estética pessoal de cada pessoa. É sempre subjetivo.

Nuno Peixoto: E já sabes que quando vais fazer um disco e vais expor às pessoas, elas vão expressar a sua opinião e uns vão gostar e outros não.

Pedro: Felizmente as pessoas têm se manifestado positivamente. O álbum tem sido do agrado das pessoas.

 

SR: Quem participa na criação musical e lírica das musicas?

José Bonito: Liricamente está a cargo do nosso vocalista do Leonel Silva é ele que trata da conceção lírica da coisa. Musicalmente somos nós todos. Normalmente as bases são sempre feitas por mim e pelo Nuno Peixoto e depois a malta vai trabalhando toda em cima disso. Obviamente que vamos acrescentado coisas que sejam do agrado de todos, que seja útil.

Nuno Peixoto: As musicas nunca estão fechadas a ideias, portanto… O processo criativo nasce de riffs de guitarra, mete-se a bateria em cima, faz-se uma estrutura e depois trabalhamos sobre isso, basicamente. O processo natural das coisas.

José Bonito: O projeto foi iniciado por nós os dois e foi assim que nos habituamos a fazer as coisas… é um bom método. Pelo menos connosco resulta. Mas não é uma coisa fechada. Se alguém chegar aqui com uma ideia e olharmos e pensar “ dá para fazer qualquer coisa genial disso ”, boa. Não é um circuito fechado.

Nuno Peixoto: Basicamente depois cada um faz o seu trabalho. Depois da estrutura estar feita cada um faz os seus arranjos, não há limitações. Cada um tem liberdade para fazer os seus arranjos, as suas partes e completa-se o resto da musica.

José Bonito: Em relação ao processo lírico, o Leonel Silva teve a liberdade toda para o fazer.

Pedro Costa: Sendo que já havia o titulo para o álbum e havia uma ideia geral de qual seria a abordagem, qual seria o contexto e essa ideia foi passada ao Leonel e ele trabalhou sobre isso.

José Bonito: E teve a liberdade toda para fazer o que quer que fosse que lá se passasse na cabeça dele e correu bem. E depois no trabalho em estúdio, as coisas ganharam vida.

Nuno Peixoto: O Leonel entrou para a banda faltavam 3 semanas para gravar o disco e depois ele levou para aí uns 3 meses para completar as vozes, ou seja, já com as letras todas. Em termos de conceito lírico aquilo que ele escolheu foi o que está no nome do disco também. Ele o definiu como o retrocesso da humanidade.

 

SR: O que vos levou a concentrar o álbum no conceito da “ decadência da sociedade “ ou como disseram no “ retrocesso da humanidade “ ?

Nuno Peixoto: É mais o retrocesso da humanidade. O ser humano em vez de progredir parece que está a retroceder, está a voltar para trás, portanto, está a auto- destruir-se. É um bocado por aí que vai o conceito das letras.

José Bonito: O primeiro disco era baseado num cenário apocalíptico, mais negro e o Leonel tornou isso mais acessível.

Pedro Costa: O cenário é o mesmo, o ponto de vista é que é diferente. O mesmo fenómeno num ponto de visto diferente.

José Bonito: Sim, estamos a falar de duas pessoas diferentes com formas de escrita diferentes.

Pedro Costa: Dois pontos de vista diferentes da mesma realidade. O outro era vivido mais na raiva, tinha um sentido mais carnal e este é um ponto de vista mais analítico, pelo menos é como eu oiço. Parece mais visto de fora.

José Bonito: Sim, o outro disco era mais denso mais obscuro e este é mais acessível às pessoas.

 

SR: Qual o espetáculo mais marcante para vocês?

José Bonito: Para mim todos os espetáculos são importantes, porque são oportunidades que a banda tem de mostrar o seu trabalho às pessoas. São todos marcantes, têm todos a sua importância, para nós. Nos dias de hoje com tanta banda, termos essa oportunidade ou darem-nos essa oportunidade para nós é porreiro. Passa a ser revelante, seja em que espaço for.

Pedro Costa: Há sempre alguns que por um motivo ou outro acabam por marcar mais…

 

SR: Mas por exemplo, a primeira vez que tocaram ao vivo deve ter ficado marcado?

José Bonito: Isso já foi há tanto tempo…

Nuno Peixoto: Foi em 2009… Talvez…

José Bonito: Nós não sabemos...

Nuno Peixoto: Sei que foi em Novembro… Foi em 2011, naquela zona dos bares da Expo. Foi a primeira apresentação, ainda nem tínhamos o primeiro disco gravado, mas tocamos as musicas que já tínhamos nessa altura do Inevitable ” que foram quase todas. Esse concerto foi bom, foi muito bom. Correu bem. Foi o primeiro concerto e não tínhamos a certeza do que é que as pessoas iam achar, porque só tínhamos um single, não tínhamos mais nada e o primeiro contacto que as pessoas tiveram com a nossa música e nós com o publico foi muito bom. Foi uma energia, que pelo menos para mim deu-me muita motivação para continuar porque a recetividade foi muito boa.

 

SR: Agora no RCA na apresentação do álbum também, certo?

Nuno Peixoto: Uma das razões porque fizemos o concerto de apresentação um bocado mais tarde. Para as pessoas terem tempo de interiorizar o disco e se familiarizar com aquilo que era o disco que íamos apresentar ali. Não quisemos lançar e tocar logo a seguir. Quisemos dar tempo para as pessoas ouvirem o disco e depois aí apresentar o disco e resultou num bom acolhimento, com pessoal a cantar as músicas, foi muito bom.

 

SR: Como está a correr a parceria com a Ethereal Sound Works?

José Bonito: Está a correr bem, está a correr dentro dos possíveis. Temos a melhor relação possível com a editora e a editora com a banda e estamos a trabalhar dentro daquilo que é possível, passo a passo e tentar construir mais qualquer coisa. Já estamos com eles desde o primeiro disco.

 

SR: E como é o funcionamento agora na era digital?

Nuno Peixoto: A nossa editora também tem os discos nas plataformas digitais.

Pedro Costa: No ponto de vista da distribuição e de fazer chegar a mais sítios, haver mais veículos é uma vantagem para quem quer divulgar o seu trabalho. O aspeto da era digital menos positivo talvez seja o culto que havia antigamente de um disco já não existe. Já ninguém compra discos. Perdeu-se um bocadinho isso. Mas do ponto de vista da divulgação, claro que é melhor. É importante a industria da musica e os próprios músicos e quem produzir musica ou outra atividade artística qualquer, que se consiga adaptar e que tente tirar o maior proveito que conseguir disso. Eu preferia que as pessoas comprassem discos e fossem para casa ler o encarte de uma ponta à outra. Preferia que pirateassem cassetes e que passassem uns aos outros no pátio da escola do que alguém descarregar o álbum para o youtube com um algoritmo de compressão horrível que não soa a nada. Mas pronto, são vicissitudes. E o que a editora fez foi apostar nisso. Apostar nas plataformas digitais. O álbum saiu ao mesmo tempo que saiu no formato físico e é mais acessível.

José Bonito: São os tempos modernos. Temos que tirar o máximo proveito.

Nuno Peixoto: É a realidade.

 

SR: Qual a mensagem que gostariam de transmitir ao público, como banda?

Nuno Peixoto: Obrigado. Continuem a ouvir o disco ou ouçam quem ainda não ouviu. Deem uma oportunidade ao disco. Ouçam!

Pedro Costa: Dar uma oportunidade ao disco e talvez fosse interessante quer com o nosso, quer com qualquer outra coisa, que as pessoas procurassem fazer o exercício de ouvir um trabalho sem esperar nada dele, ou seja partir para essa experiencia de ouvir o trabalho sem terem uma ideia já do que é que querem, do que é que estão à espera, em que gaveta de estilo ou género é que vão colocar determinado projeto, ouvir só. Só por ouvir e experimentar aquilo que tentamos propor com este álbum.

 

SR: Obrigada!