Entrevista - ThorVus:
Lunah Costa: ThorVus, um nome em ter em conta para quem não só aprecia death metal melódico progressivo, mas acima de tudo para quem aprecia música com uma excelente sonoridade pesada e melódica, pois a versatilidade é um dos pontos fortes desta banda do Porto.
São uma banda recente, mas que já deu provas da sua qualidade, ganhando assim a visibilidade do público. Em apenas um ano juntos, já têm a qualidade necessária para merecer destaque no panorama musical.
Os ThorVus trabalham afincadamente para melhorar cada vez mais o seu trabalho e alcançarem a perfeição. Sem dúvida que esta banda prova que se faz muito bom metal em Portugal, apesar de todas as dificuldades.
Com a finalidade de conhecer mais detalhadamente a banda e tentar descobrir pormenores do próximo concerto dia 30 de Outubro no Breyner85 (Porto), convidamos o Fábio Pinto (guitarrista solista/compositor), David Pinto (guitarra ritmo/compositor) e Hugo Rajado (baixista/compositor) para uma boa conversa.
• L.C: Para começar, como surgiu a ideia de formarem uma banda?
Fábio: A ideia sempre esteve lá no meu subconsciente, eu tocava sozinho e o meu sonho sempre foi ter uma banda o resto não era muito importante, só ter uma banda e tocar. Já conhecia o David porque numa das tentativas de formar banda lá nos anúncios e fóruns acabei por me cruzar com este morcão. (risos) mas nada daí resultou mas ficamos amigos…mais ou menos…(risos). Mais tarde é que acabei por integrar uma banda mais ou menos do mesmo estilo onde precisávamos de membros e foi então que primeiro veio o David se não estou em erro, depois o Pedro (vocalista) e por fim o Hugo. Nada nesse projecto resultou, não graças a nós os quatro mas sim a outros membros desse projecto e então aí ficamos só nós os quatro e fizemos um novo começo agora como ThorVus. Neste processo de recomeço lutamos bastante para encontrar um baterista e após várias tentativas frustradas apareceu o Tiago e assim ficou.
• L.C: Como surgiu o nome “ThorVus”?
David: O nome é uma variante da palavra torvus que significa em latim, ‘cruel’ ou ‘feroz’. Procurávamos um nome que demonstrasse a dimensão das nossas músicas, do nosso estilo.
• L.C: O vosso estilo é o Death Metal Melódico. Porquê este estilo?
David: Na minha opinião, eu não nos catalogava só por um estilo. Somos cinco, cada um com os seus gostos e com as suas ideias. Felizmente (ou infelizmente) cada um tem o seu próprio estilo, tornando a nossa música mais versátil. Talvez, no final do dia, o que conseguimos criar ‘musicalmente’ seja considerado Death Metal Melódico.
Fábio: O nosso estilo é Death Melódico sim, mas ao mesmo tempo são outras coisas também, ao menos metal sabemos que fazemos (risos). Mas sim, as nossas composições incorporam sempre algo muito melódico para contrastar com as ideias mais “ferozes” tal como diz o nome. No fim fazemos algo progressivo visto que essa também é uma das raízes de cada um.
Hugo: O Death Melódico, ou Melodeath, em si já é um estilo muito aberto. Já incorpora muitas influências, desde o original heavy metal até ao progressivo, passando claro pelo death metal mas também as influências orquestrais, samplagem, electrónica, teclados. Termos várias pessoas sempre com disponibilidade para criar novas músicas e apresentar as suas ideias ajuda ainda mais a esta versatilidade.
• L.C: As vossas músicas soam não só a Death Metal Melódico, como também têm riffs que fazem lembrar um pouco Thrash e Doom, tornando-se um pouco progressivo. Isso deve-se às vossas influências ou por outro motivo?
Fábio: Não há nenhuma “agenda” por trás do nosso estilo, a resposta é simples, eu ou o David e muitas vezes o Hugo surgimos com o certo riff ou ideia completa para um tema e nós compomos a partir daí mediante aquilo de que gostamos ou não e moldamos à nossa maneira. O resultado pode soar a muita coisa mas o Death Melódico é o que se calhar melhor nos caracteriza. As influencias têm uma grande parte nisso tudo, eu ouço muito Death Melódico, mas também ouço muitas outras coisas fora e dentro do Metal.
David: Isso vai ao encontro da minha resposta anterior. O ‘produto final’ pode ter como base o Melódico, mas cada um de nós, tem diversas influências a nível musical. Eu pessoalmente, entrei neste mundo, ainda muito jovem, a ouvir Korn, Tool, Deftones, Rammstein, Alice in Chains e por aí fora e como se pode ver, nada ou pouco parecido com o Death Metal Melódico. Nesta fase da minha ‘vida musical’, ouço BTBAM, Mastodon, Dream Theater entre outras, que (uma vez mais) nada ou pouco tem a ver com o MeloDeath. E, tal como eu, todos nós temos as nossas influências. O que é bom, pois torna um ambiente de ‘trabalho’ muito mais produtivo, com várias ideias de nós os cinco. O que numa música pode parecer Thrash ou Doom, na outra pode ter um estilo mais progressivo. Tentamos explorar ao máximo as nossas opções, não nos restringimos apenas a um estilo.
• L.C: Entre outros, vocês abordam temas como a mitologia grega. Por algum motivo em especial?
David: Abordamos esse tema, porque é algo que nos fascina. É algo que temos em comum para além da música e tentamos juntar o útil ao agradável.
Fábio: É algo épico portanto tem lugar no tema das nossas músicas. Muitas vezes o tema mitológico esconde alguns sentimentos ou lutas pessoais. Para já também é um pouco cedo para sabermos sobre o que vamos escrever em concreto, mas acho que quando lançarmos algo contaremos uma história mais completa e mais sólida.
• L.C: As vossas músicas têm pormenores muito técnicos. Na vossa opinião, isso traz qualidade ao vosso trabalho?
David: Se traz qualidade ou não, cabe ao ouvinte avaliar. Procuramos não uniformizar as músicas, mas sim, explorar todo o seu potencial. A verdade é que feito de propósito a inclusão de certos pormenores. Queremos dar ao ouvinte uma experiência ao ouvir as nossas músicas. São os pequenos pormenores que fazem as diferenças. E por vezes são esses mesmos pormenores que nos fazem ‘perder’ horas e horas de ensaios, que nos levam ao extremo enquanto músicos, para que no final possamos ter uma reacção positiva do ouvinte/público.
Fábio: Os pormenores, para mim é algo que é bem trabalhado para que os temas tenham algo interessante para além de uma construção musical já batida. Eu no meu caso, faço música para mim e para a banda, não penso nunca naquilo que o ouvinte possa achar, portanto para mim os pormenores é para eu curtir ainda mais a música e o meu instrumento.
Hugo: As partes mais técnicas fazem sempre parte de qualquer boa composição, pequenos detalhes que podem demorar horas a fazer mas que acabam por acentuar certas partes da música dando-lhe outra personalidade.
• L.C: Em Portugal, não há grandes apoios nem investimentos para os músicos, quais são as vossas principais dificuldades?
David: Eu creio que as nossas maiores dificuldades são as mentalidades da nossa sociedade. Sabemos perfeitamente que o nosso estilo não apreciado pela grande maioria de portugueses. É muito difícil apontar o dedo, seja a quem for. Nós temos grandes artistas, escondidos, perdidos por Portugal fora, que não têm qualquer tipo de apoio, apenas porque não toca o que a sociedade quer ouvir. Estamos formatados a ouvir apenas, o que passa na televisão ou na rádio. ‘Eles’ é que nos dizem o que ouvir, e quando nós tocamos outra coisa qualquer, somos considerados marginais e postos de parte. A sociedade prefere ouvir músicas fúteis, sem qualquer tipo criativo, do que algo que possa mexer com o sistema. Preferem ouvir 3 acordes, ao longo de 13 músicas de um álbum a falar de animais da quinta, do que ouvir uma diversidade infinita de acordes e sons que, realmente foi fruto de um processo complexo e tocado com a maior paixão do mundo. E depois vem a questão do dinheiro. Se a grande maioria gosta de esse estilo, porque investir em algo que só atrai uma minoria? Onde há o retorno? Não há … É tudo à base de dinheiro. É preferível explorar o bolso dos ignorantes do que apostar, arriscar naqueles que realmente querem impulsionar a cultura musical.
Fábio: Para resumir a indignidade do David, a qual concordo completamente, nós somos os gajos que andam quilómetros e quilómetros com o material às costas (ou na mala do carro pronto) para irmos tocar e receber nem metade daquilo que gastamos a ir. (risos)
• L.C: O que os motiva a continuar apesar das dificuldades referidas?
David: O que nos motiva, é a música. Não há outro motivo. É a música que criamos que nos faz sentir bem. Que nos faz sentir que realmente fazemos algo de diferente e que não seguimos a corrente do comodismo, como referi anteriormente. É a música que nos abstrai dos problemas que existe no nosso dia-a-dia, é a nossa ‘droga’.
Fábio: Exactamente, se é disto que gostamos temos de nos aguentar como pudermos, também não estamos a fazer o choradinho, isto é algo por que muitas banda dentro da musica alternativa passa neste país portanto é algo “normal”. Se fossemos todos rapazes abastados nesta altura estávamos numa Finlândia ou numa Alemanha ou até uma Suécia, a gravar já o segundo álbum fosse bom ou mau. (risos)
Hugo: Sem dúvida, a arte, a musica, é isso que nos faz estar aqui, o resto faz parte do trabalho, mas nos adoramos musica e é isso que nos torna completos. Tocar ao vivo, lançar álbuns, divulgar, tudo vem no nosso amor à musica.
• L.C: Muitas bandas queixam-se da falta de adesão do público aos concertos das bandas nacionais. Vocês sentem o mesmo?
David: Infelizmente sim. Mesmo no nosso meio musical, as pessoas só vão a grandes eventos de bandas já de renome. Uma banda nacional que esteja a começar, a dar os primeiros passos, segura-se um pouco pelos amigos e conhecidos que nos fazem o favor de ir-nos ver e apoiar. Agradecemos por isso e ficaremos para sempre gratos. Mas em termos de ambição musical, precisamos deles e de mais e mais pessoas. Só assim podemos crescer e melhorar enquanto músicos. Chegamos a um ponto em que vivemos para o público, para os fãs … No dia em que nos apercebemos que já não os temos, não vale a pena continuar.
Fábio: Pode não valer a pena continuar a divulgar. Mas música essa sim vamos continuar a fazê-la enquanto tivermos força nos dedos, braços e voz.
• L.C: Nos concertos de bandas estrangeiras, isso não acontece com frequência. Acham que o público desvaloriza o trabalho das bandas nacionais apesar da qualidade do que se faz por cá?
Fábio: Vai sempre haver essa controvérsia, as pessoas vão sempre querer ver a tal banda de renome não sei de onde do que a bandazeca que até tem um logótipo fixe aqui do Porto. Acho que a única banda portuguesa actualmente que consegue bater essa controvérsia são os grandes Moonspell, esses sim nasceram na altura certa e impulsionaram-se com todo o mérito na altura certa e são, para mim, melhores do que muita banda gigante que há aí pelo mundo. No fim toda a gente está no facebook a apoiar as bandas portuguesas e o “metal tuga” como assim é chamado mas nos recintos de concerto estão lá nove pessoas amigas.
David: Tudo o que é de fora, é bom. É a mentalidade que reina no nosso país. Não posso condenar as bandas estrangeiras que conseguem encher uma sala para os ver, pois é esse também o nosso objectivo. Mas a verdade é que o nosso trabalho será sempre comparado com os estrangeiros. E não falo apenas de nós banda, mas sim de todas as bandas do estilo portuguesas. Seremos sempre comparadas e haverá sempre algum aspecto negativo em nós e um aspecto positivo nas bandas estrangeiras.
• L.C: Entre o vosso primeiro concerto na CasaViva e o último, no festival Warfest, foi perceptível algumas alterações em algumas das vossas músicas. Vocês alteram para melhorar cada vez mais o vosso trabalho ou por outro motivo?
David: É normal, pois ainda estamos à procura do nosso melhor. Queremos atingir o potencial máximo de cada música, para poder transmitir toda a nossa energia para o público. E aproveitamos e vamos vendo a reacção do público em algumas alterações. Não nos queremos conformar mas sim, dar o nosso máximo.
Hugo: O trabalho aqui é constante, estamos sempre a ter ideias e a pô-las em pratica nos nossos ensaios. Todas as ideia são exploradas e se encontramos algo que possa ser feito melhor, mudamos.
• L.C: Vocês têm um concerto no Breyner85, no Porto, dia 30 de Outubro. Quais são as vossas perspectivas?
Fábio: Para o breyner vai ser o gig em que vamos investir mais na divulgação portanto contamos com um concerto altamente, pelo menos na companhia de quem nos apoia.
David: Esperamos uma boa casa. Queremos dar o nosso melhor e demonstrar uma vez mais o nosso trabalho. Queremos um bom ambiente, que todos se orgulhem de nós, queremos dar a conhecer o nosso trabalho a muitos que nunca nos ouviram. Queremos ganhar nome pela nossa qualidade, pela nossa postura e principalmente, pela nossa música.
• L.C: Na vossa opinião, os concertos são importantes para a divulgação da banda e para o próprio melhoramente desta? Porquê?
Fábio: São fulcrais para a divulgação, para a banda é um acumular de experiência, todos nós somos muito novos nesta área do espectáculo portanto a cada concerto vamos melhorando.
David: Dar a conhecer a banda é sempre importante. Os concertos são uma forma de projectar todo o nosso trabalho, toda a nossa dedicação. Mas mais importante que isso, é fazer com que cada concerto seja único, de forma a criar uma imagem positiva em nosso redor.
• L.C: Como músicos, quais são os vossos objectivos?
David: Continuar neste caminho. Vamos traçando objectivos à medida que vamos crescendo. Não temos uma meta atingir, pois isto não é uma corrida. Queremos levar tudo a seu tempo na esperança de um dia sermos reconhecidos. Mas posso revelar que o principal objectivo neste momento, passa pela gravação em estúdio do nosso projecto
Fábio: Gravar é o nosso objectivo actual, já temos temas mais que suficientes para um álbum e sobra. (risos) Agora resta decidir alguns passos, portanto não podemos revelar o que vai ser e quando.
• L.C: Para finalizar, dêem ao público três motivos para irem assistir aos vossos concertos.
Fábio: Somos rapazes até bem bonitos, É barato e é melhor que ficar a ver concertos no youtube…da lady gaga. (risos)
David:Temos qualidade! Projectamos uma energia estonteante! É diferente de tudo o que já ouviram!