Sacerdus Magus em entrevista exclusiva ao Som do Rock
Por ocasião do lançamento do seu novo trabalho o Som do Rock entrevistou Sacerdos Magus que é a alma de Antiquus Scriptum.
1º - Sacerdos Magus, quero agradecer a tua disponibilidade para esta pequena entrevista. Para quem ainda não conhece o teu projeto Antiquus Scriptum (não acredito que não o conheçam), como o defines em termos de sonoridade?
Olá Paulo. Antes de mais obrigado a ti e ao ‘Som do Rock’ por esta oportunidade. Bom, a melhor definição para a sonoridade de Antiquus Scriptum, será talvez a de um projecto de pagan black / viking metal, com influências de thrash metal, música ambiental e folk, acho que será este a melhor catalogação, se formos por géneros… No entanto isto serve de rótulo, apenas, pois o leque de influências para Antiquus Scriptum é muito mais vasto, passando pela música clássica, cantos gregorianos, música medieval, renascentista, etc, e até punk!… Tudo isto e muito mais se pode conjugar no som deste projecto e embora todos os discos sigam uma linha evolutiva comum entre si, são sempre inúmeras as ideias para acrescentar influências musicais em novos temas de Antiquus Scriptum… Para além do metal, as influências folk e de música clássica, por exemplo, são cada vez mais notórias e gosto que assim seja. Não imponho limites de composição, nem a mim mesmo, nem a nenhum músico convidado que participe no projecto... gosto de novas ideias e novos desafios, e a malta que participa, também…
2º - Como surgiu a ideia da sua criação? Quando é que descobriste que era esta a tua arte, aquilo que querias fazer?
O anno de criação de Antiquus Scriptum foi 1998, quando saí dos Firstborn Evil, banda onde era baixista, como sabes, mas ando metido nesta lead das bandas e projectos musicais desde 1992… Muito novo que percebi que a música era a minha vida, desde a minha infância, no anos 80, quando passavam clips de pop e rock na televisão, ao fim de semana, naqueles programas do ‘Top+’, e essas cenas… Do rock ao heavy metal foi um saltinho, na adolescência, e assim foi, a partir de 92 comecei nas primeiras bandas de punk e metal e depois de ter passado 3 intensos anos pelos Firstborn Evil e ter adquirido uma certa bagagem do que era na realidade este mundo do metal underground, decidi fazer Antiquus Scriptum em 1998 por conta própria. No entanto não foi uma ascendência por aí além, passei muitos anos no anonimato, a lutar contra inúmeras advertências e mesmo hoje em dia, o projecto não é assim tão conhecido como afirmas… Antiquus Scriptum sempre subiu todos os degraus do reconhecimento como muito sacrifício meu e não foi em nada uma ascendência tipo a de uns Corpus Christii, por exemplo, ou nada disso… Só muito anos mais tarde acabei por sentir o doce sabor do reconhecimento, passo a passo, e é como te digo, foi tudo muito moroso, mesmo a nível de afirmação e subsequnte reconhecimento, talvez pelo facto de não tocar ao vivo...
3º - Se não tivesses seguido a música o que achas que serias agora?
ahah... infeliz, certamente... Não me imagino sem tocar nem compor e gravar música... Já o tentei por uns anos e foi o período mais triste da minha vida, sentia-me incompleto... Vou no 6º álbum com Antiquus Scriptum e cada vez que gravo, parece que estou a gravar o primeiro disco, a adrenalina anda pelo corpo todo... Não me interessa de todo a minha profissão, já as tive bem humildes... desde que não me privem da música...
4º - Qual o género(s) de Metal predominante no teu som?
A variante de metal que mais predomina na sonoridade de Antiquus Scriptum, e é o que mais oiço de há uns anos para cá, é sem dúvida black metal e os seus derivados, pagan bm, symphonic bm, viking metal, conjugado com folk e música ambiental, como já disse, e adicionando todo um rol de influências antigas que não dispenso de incluir em todos os trabalhos, como o thrash metal, o punk, etc... Já falei disso na pergunta 1, a melhor forma de catalogar A.S. será talvez pagan black / viking metal, com influências de thrash metal, música ambiental e folk.
5º - Quais são as sonoridades (bandas) que marcaram as tuas influências?
Inúmeras!... Milhares!... Como já disse também, o black metal, ou o pagan black metal & viking, são os estilos que me influenciam a mim e ao projecto mais directamente e foram bandas como Bathory, Mayhem, Emperor, Enslaved, Gorgoroth, Satyricon, Enslaved e essa vaga de black metal nórdico que se expandiu da Escandinávia nos annos 90 que me levaram a apaixonar-me por esta vertente mais dark e a fazer um projecto baseado da sonoridade 'black metal'... No entanto venho do thrash metal e do heavy metal tradicional, nos annos 80, e comecei por bandas como Iron Maiden, King Diamond, Venom, Slayer, Overkill, Helloween, Metallica, Megadeth, Sodom ou Kreator, claro, passando depois naturalmente pelo death metal, doom, grind e punk... Mas prontos, como saberão aqueles que conhecem o som do projecto, Antiquus Scriptum não soa a black metal 100%, principalmente na parte vocal, e são notórias todas as influências antigas de thrash metal e punk, como já haveria referido, para além das influências ambientais e folk, mais a nível dos interlúdios...
6º - Em termos de trabalho já contas com vários álbuns editados, o que podes dizer deste novo trabalho?
O ‘Imaginarium’ é o 5º álbum de originais de Antiquus Scriptum e o 6º lançamento longa duração do projecto, por isso acarreta uma responsabilidade acrescida em si mesmo, pois o factor de satisfação do público que segue e conhece Antiquus Scriptum, e o pessoal em geral, tem de suceder, mas acho que que isso aconteceu, de facto, a avaliar pelo feedback que estou a receber do lançamento. O ‘Imaginarium’ tem a particularidade de ter sido o disco mais rápido que eu escrevi e compus em toda a minha vida, apesar de grande, e mesmo a gravar foi tudo muito ligeiro, apesar dos irmãos Vieira (os irmãos que participam comigo no projecto, particularmente o produtor, Paulo Vieira), estarem a passar um momento complicado das suas vidas, no ano passado, mas apesar disso foi tudo muito espontâneo. É um álbum muito natural e simples, uma evolução natural daquilo que já tinha feito nos outros 4 / 5 discos, mas não copia nenhum, apesar disso, isso nunca acontece e acho que se destaca evolutivamente e tecnicamente e apesar de grande, (são todos), acho que se ouve muito bem.
7º - Se te apresentarem um excelente contrato mas em que tenhas que sair de Portugal, aceitavas?
Humm… acho que isso não irá acontecer… Realmente tenho convites e há conversas para ir visitar amigos e companheiros de bandas no estrangeiro, acontece com qualquer pessoa que se corresponda há muito tempo com alguém lá de fora, mas a nível editorial, ter de obedecer a um contracto que obrigue a isso, acho que não sucederá… Como te disse Antiquus Scriptum é um projecto pequeno e não tocando ao vivo, acho pouco provável que isso aconteça. No entanto vou-te responder mais directamente à tua pergunta, se aparecesse um contracto discográfico que me obrigasse a ausentar-me para o estrageiro, claro que aceitava! Isso obrigar-me-ia a uma nova estratégia para realizar o trabalho de estúdio, mas tudo se solucionaria, com certeza, hoje em dia tudo é possível… mas volto a dizer que isso é pouco provável.
8º - Ao longo da tua carreira devem de ter acontecido muitas situações de algo engraçado que te tenha ficado na memória. Queres partilhar alguma?
Sim, a maior parte dos episódios engraçados que acontecem às bandas geralmente é na estrada e nos concertos, mas sim, lembro-me de uma coisa engraçada que aconteceu no ano passado na estação dos correios aqui da minha zona… Fui à estação de Almada Norte levantar um pack que vinha acho que de Espanha e o rapaz que a enviou, em vez de escrever na morada com o meu nome próprio, escreveu mesmo ‘Sacerdos Magus’, o meu pseudónimo, nos dados de envio. Então o Sr. dos correios, perguntou: ‘É o Sacerdos Magus?’. Um pouco perplexo, respondi: ‘Sim…’. Ele seguiu-se: ‘Então assine aqui’. Um bocado baralhado, perguntei: ‘Escrevo o meu nome próprio, Jorge Magalhães, certo?’. O Sr. Dos correios aí afirmou: ‘Não, assina como esta no envelope… Sacerdos Magus…’. E prontos, depois de assinar Sacerdos Magus na grelha de registos recebidos, lá trouxe a minha preciosa encomenda, achei engraçado este episódio…
9º - Quem são os músicos que te acompanham? Há a possibilidade de podermos ver atuações ao vivo?
Tenho sempre muitos músicos a participar nas gravações, em todos os discos, já participou o Zeto Feijão nos instrumentos tradicionais, no passado, a Cláudia Ferreira que cantava nos WinterMoon, o Bruno Fernandes dos The Firstborn, neste participou o Andremon na voz da cover de Darkthrone, etc, etc, etc, mas as presenças sempre assíduas em todos os álbuns são os irmãos Vieira, que já falei, o Ricardo Vieira, o Gustavo Vieira e o Paulão, este que também grava e produz todos os registos dos projecto. Hei-de sempre convidar muita gente para participar comigo em estúdio nas gravações dos álbuns de A.S., sempre o fiz e vou fazê-lo no futuro, também, com certeza, não há limites para a participação de terceiros nos discos de Antiquus Scriptum, sempre o farei. Em relação a actuar ao vivo, não… digo sempre o mesmo em relação a isso, infelizmente não há planos alguns para uma actuação de Antiquus Scriptum ao vivo, só conversas de café, entre nós, na piada, mas eu pessoalmente não tenho vontade de actuar ao vivo com este projecto… Só talvez um dia mais tarde com todas as condições, como digo sempre, talvez a abrir para uma boa banda estrageira, ou num aniversário bem planeado ou assim, mas nó num caso destes… Tocar só por tocar, decididamente, não.
10º - Deves de ser o músico nacional com mais splits e prova disso é este teu novo álbum que já tem vários marcados. Isso é prova do reconhecimento do teu trabalho. Achas que tens mais reconhecimento internacional ou aqui em Portugal?
Não, não sou. A banda nacional com mais splits e lançamentos é decididamente Decayed, e há muitas bandas por aí que lançam muitos splits, mas a nível de lançamentos por ano, logo a seguir a Decayed deve ser Antiquus Scriptum, sim… A nível de reconhecimento, eu cá em Portugal tenho felizmente o meu grupo de fãs que segue Antiquus Scriptum e compra todo o muito merchandise que já tenho, mas as editoras são quase todas maioritariamente estrageiras e isso também se reflecte lá fora, não só nas vendas, como nas muitas reviews que começam a aparecer lá de fora, felizmente, e o próprio facto de ter muitos splits com bandas estrageiras, também ajuda um pouco a isso… ‘Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura’, e estes anos todos de lançamentos e todas as inúmeras edições no estrangeiro, começam finalmente a dar frutos. Eu não lhe chamaria fama, nem sucesso, mas há o mínimo de reconhecimento finalmente além fronteiras e as coisas começam a aparecer devagar, passo a passo…
11º - Que planos tens para o futuro?
Bom, a cena é continuar, apesar das adversidades e não nos contentarmos com o que já temos, mas buscando, sim, sempre o que ainda nos falta… Se em 1994 me dissessem que em 2017 eu teria um projecto de black metal com 6 álbuns já, e estabilizado, todos lançados inúmeras vezes em várias edições de 1.000 cópias e atingindo já os objectivos que eu já atingi, eu rir-me-ia, certamente, portanto a cena é continuar sem previsões nem planos, deixando sempre a pica e a adrenalina falar mais alto que tudo... Felizmente não estou sozinho nisto e tenho velhos amigos comigo nesta luta, portanto é só ir remando contra a maré, sempre… passo a passo… e tudo correrá bem, com certeza. Um abraço e a ti, Paulo, e ao ‘Som do Rock’ e obrigado pela oportunidade. Obrigado também a todos os que lêem esta entrevista. Força & Honra!