Lunah Costa colaboradora do Som do Rock em entrevista á Ode Lusitana
Olá Lunah! É com enorme prazer que temos a tua presença neste número da Ode Lusitana.
Para começar nada melhor do que o grande trabalho que se tem vindo a fazer e que é o
Headbang Solidário. Como surgiu a ideia deste projecto da organização de eventos para a
angariação de fundos para causas sociais? Quem é que constitui a equipa do “ Solidário”?
Muito obrigada desde de já pelo convite, é um prazer ser entrevistada pela Ode Lusitana. O
Headbang Solidário surgiu quando uma amiga minha de longa data, a Vera Pentieiros, pediu
ajuda para angariar fundos para o seu projecto Noites Solidárias que auxilia os sem-abrigo e
famílias carenciadas, porque estavam sem dinheiro para comprar comida. Eu até a data
nunca tinha organizado nenhum concerto mas aceitei ajudar. Como correu bem, decidi
continuar com o Headbang e ajudar várias associações e causas. Não tenho como ajudar
monetariamente as associações, por isso é esta a minha forma de ajudar. Em relação à
equipa do Headbang, basicamente sou eu. No entanto, tenho o Fábio Pinto que elabora os
cartazes do Headbang e tenho o Hugo Rajado que no dia dos eventos ajuda no que for
necessário.
Como se processa a ligação entre vocês e as várias associações que apoiam?
Quando escolho uma associação ou projecto, tenho que conhecer bem a forma como
trabalham e verificar se estão com dificuldades. Marcamos reuniões, as associações ou
projectos apresentam provam das suas dificuldades, recibos, dividas, gastos e visito os
espaços destas. No caso por exemplo da associação Senhores Bichinhos, eu sei e conheço as
clínicas as dividas que a associação tem por salvar e cuidar dos animais. Para além que era
voluntária da associação e hoje faço parte como membro da mesma. Conheço os animais,
conheço o local e sei como a associação funciona. E é igual para o projecto Noites Solidárias,
já assisti a entregas, todos os meses publicam os gastos e os recibos e conheço pessoas que
este projecto auxilia. E é isso que faço. Tento ter a certeza que o dinheiro é bem entregue.
No dia do evento, o valor angariado é entregue directamente do Metalpoint a um membro
da associação ou projecto.
O primeiro festival foi realizado em Maio do ano passado. O que mais tens notado de
evolução entre esse festival e o último, realizado em Fevereiro deste ano? Já notas que as
pessoas conseguem reconhecer facilmente o vosso trabalho e a apresentação deste
festival?
O que tenho notado é que algumas bandas se disponibilizam para participar, enquanto no
primeiro evento eu entrei em contacto com todas as bandas, neste momento, tenho bandas
a contactar-me para ajudar e participar. Tenho recebido mais propostas de parcerias e de
apoios. Tal como tenho associações a pedir ajuda. Acho que sim, acho que o nome
Headbang Solidário já é reconhecido, não por todos claro, mas tenho recebido palavras de
apoio de várias pessoas que não conheço pessoalmente, bandas que querem tocar neste
evento e associações que pedem ajuda, mas ainda há um longo caminho a percorrer, é
ainda algo recente.
Como nasceu a hipótese de utilizarem o Metalpoint como sítio dos concertos? Há a
hipótese de quererem efectuar estes concertos em outras cidades ou espaços?
O Metalpoint foi o meu primeiro contacto. O Metalpoint não é apenas um local com
excelentes condições. É o local que manteve o metal nacional vivo durantes estes anos, sem
nunca desistir apesar das dificuldades. Se há algo que posso garantir, é que no Porto, o
Headbang será sempre no Metalpoint. O Headbang não é apenas um projecto de festivais, é
a representação do que eu acredito. E eu acredito na gratidão. E estou eternamente grata
ao Hugo Almeida do Metalpoint, por ter abrido as portas a alguém que nunca fez nada do
género, que acreditou em mim e que ainda hoje, é um grande apoio. Mas não está excluída
a hipótese de alargar para outras zonas do país.
Em Junho próximo teremos a 4ª edição, desta vez associado à ajuda às crianças. Como a
Associação Sorrisos de Criança ‘participa’ neste evento?
Eu decidi abraçar uma causa que me diz muito: as crianças. E tenho amigas que colaboram
com essa associação. A Sorrisos de Criança, tal como qualquer outra associação, tem
apenas que estar presente no dia dos eventos para promover o seu trabalho, tal como
receber o valor angariado. No entanto, é necessário também um contacto regular entre
mim e a associação, caso uma destas condições não se verifique, tenho que procurar outra
associação ou projecto dentro deste âmbito.
Já se encontra o cartaz fechado ou poderemos ter mais algumas bandas?
Ainda poderá haver surpresas. O cartaz está fechado, mas é sempre possível haver algumas
alterações. As bandas que participam, têm músicos que infelizmente não vivem da música,
têm empregos, e como tal, por algum motivo profissional ou até de saúde, podem levar à
alteração do cartaz.
Como se efectua a escolha destas bandas, que tem sido uma surpresa para muitas
pessoas, já que algumas são menos conhecidas ou ainda em início de actividade?
Digamos que tento colocar as bandas que admiro e gosto, o máximo que pode acontecer é
receber um “não” ou até não obter resposta. Também penso no que o público gosta
porque, sinceramente, um dos objectivos principais é angariar fundos. No entanto, sim,
arrisco em bandas que nunca tocaram ao vivo, que nunca tocaram no Porto ou no
Metalpoint, porque defendo que essas bandas têm o direito de mostrar o seu trabalho e
claro que peço sempre material para ouvir.
Também é por isso que tento fazer cartazes com bandas de estilos diferentes, porque todas
têm o direito de mostrar o que valem, independentemente do estilo de metal que tocam e
já ouvi comentários deste género” não gosto do estilo, mas até gostei bastante da banda”.
O Headbang tem sempre as portas abertas para qualquer banda, desde que tenham
qualidade para oferecer ao público.
As pessoas que assistem a estes concertos conseguem ter um espírito solidário? Consegues
explicar alguma da insensibilidade das pessoas perante estas causas, seja relativamente
aos sem abrigo, aos animais, ou mesmo às crianças? Cada vez mais se perdem os valores
morais nesta sociedade actual?
Como costumo dizer: os metaleiros são uns fofos (risos). Em todos os estilos musicais, em
toda a sociedade, há sempre boas e más pessoas, tal como há pessoas solidárias e outras
nem por isso. No entanto, um dos objectivos do Headbang Solidário é também diminuir a
visão da (ainda) maioria das pessoas, que os metaleiros são todos uns porcos, feios e maus
(risos) e tenho conseguido. As associações ficam muito admiradas com a solidariedade das
pessoas que vão as eventos: levam comida, roupa, compram sempre alguma coisinha nas
bancas para ajudar. Estou muito mas muito orgulhosa de todos os que vão aos eventos. É
um ambiente lindo.
Mas sim, acho que os valores morais estão a regredir. As pessoas colocam o dinheiro à
frente de tudo: da amizade, da gratidão, da humildade. Mas no caso da adesão do publico
aos eventos, só tenho a agradecer a presença de todos.
Tens uma presença bastante forte no que toca ao movimento underground e entre as tuas
várias participações, estás agora na Cthulhu Productions. Da tua parte tens a organização
de eventos e o agenciamento de bandas. Como nasce esta produtora, tendo uma
variedade enorme de campos a que está ligada?
Não acho que tenha uma presença forte no movimento underground, ainda tenho um longo
caminho a percorrer e muito a aprender. A Cthulhu nasceu nas profundezas das sugestões
que tenho recebido (risos). Várias pessoas sugeriram que eu criasse algo a ganhar algum
dinheiro, porque o trabalho que tenho feito no Headbang está a ser bem feito e que
poderia investir em algo assim. E o facto de estar próxima das bandas, alguns laços de
amizade foram criados, e fui-me apercebendo que as bandas poderiam necessitar de alguns
serviços, a um preço simbólico para conseguirem alguns objectivos, como tocar em todo o
país e no estrangeiro. Esse é o meu trabalho: levar as bandas aos quatro cantos do mundo, a
começar por Portugal.
Em relação aos outros serviços, tenho amigos que sabem dar aulas de música, o Hugo
Rajado, o Dabid Pinto e Tiago Gomes e têm muitas pessoas que querem aprender mas que
não podem pagar o que geralmente as escolas pedem, logo, criei uma escola de música com
pessoas que sabem dar aulas e que gostam, a um preço o mais baixo possível e com as
melhores condições possíveis.
A nível de gravação de vídeo, tenho amigos que neste momento estão a criar um projecto
nesse sentido, visto que a pareceria com a ISFrame não tinha como continuar.
Ou seja, nasceu entre amigos e irá permanecer entre amigos.
Quem compõem a Cthulhu Productions? Uma das primeiras parcerias foi com a banda
portuense Thorvus. Como surgiram os contactos com eles e como as bandas e as pessoas
podem entrar em contacto com vocês?
A Cthulhu Productions é basicamente composta por mim, para além dos professores, o Hugo
Rajado, o Dabid Pinto e Tiago Gomes, e colaborações que ainda estão a ser analisadas.
Em relação aos Thorvus, conheço os Thorvus à 3 anos, por motivos pessoais, namoro com o
Fábio Pinto, guitarrista e vocalista. Sempre gostei do trabalho deles, acompanhei-os ao
longo destes anos como manager e amiga. Foi por causa deles que ganhei amor ao metal
nacional de forma que hoje dedico-me a esse “amor” (risos). Só sabendo as dificuldades das
bandas nacionais de metal, é que se ganha paixão pela causa.
Podem contactar por email: productionscthulhu@gmail.com , por facebook:
https://www.facebook.com/CthulhuProductions e por tlm: 915 880 324.
O nome Cthulhu, remete ao imaginário do mestre norte-americano H. P. Lovecraft. Como
foi a tua descoberta deste autor? Tens mais autores que despertam a tua curiosidade? O
que achas da situação nacional em que vemos os jovens cada vez mais a se afastarem da
leitura? O que se poderia fazer para alterar esta mentalidade?
Desde de muito cedo que adquiri o âmbito de ler. O meu irmão mais velho sempre me deu
grandes obras para ler e H.P Lovecraft foi o primeiro génio do terror que fiquei grande
admiradora até aos dias de hoje, porque na sua obra ele, ao mesmo tempo que ele cria
personagens míticas como o Cthulhu, insere elementos de fantasia e ficção cientifica que
são géneros que aprecio bastante, para além da sua escrita fria, detalhada e mórbida. A
obra dele diz-me muito, ao ponto de escolher este nome para o projecto e de futuramente,
tatuar uma homenagem ao escritor e à sua obra e assim começo a responder a outra
questão: tenho imensos escritores que despertam a minha curiosidade e mais que isso, a
minha admiração. Tenho um braço tatuado com Edgar Allan Poe, Florbela Espanca e Oscar
Wilde, e ainda falta tatuar o H.P Lovecraft e o José Saramago. Os livros, a leitura, sempre foi
a minha grande paixão. Em relação aos nossos jovens, sinceramente, não estou a par das
suas escolhas de leitura, mas é percetível que na sua maioria não têm sequer hábitos de
leitura e sim, isso preocupa-me, por acredito que há escritores, há livros, há simples frases,
que podem mudar a nossa maneira de ser, quem somos. Que nos podem tornar melhores
seres humanos. Não sei como alterar esta mentalidade. Mas acredito que a família tenha
um papel essencial. No entanto, cada um tem os seus gostos, as pessoas são livres de não
gostar de ler, mas, sinceramente, acho que deveriam ler pelo menos um livro por mês.
Entre as várias coisas, também efectuas entrevistas a bandas. Como é o teu processo de
preparação das mesmas? O que achas do aumento destas publicações e porque não
surgem mais?
Infelizmente, já não faço à imenso tempo. Felizmente, a Som do Rock, apoiam-me nos meus
projectos e entende que não tenho como fazer entrevistas neste momento. Criei o festival
Som do Rock Fest para agradecer esse mesmo apoio.
Tudo teve um início, por isso como começou a tua paixão pelo Metal e com quais bandas?
Tinhas um grupo de amigos na secundária em que davam a conhecer novas sonoridades?
Quais os álbuns que ouvias no início e ainda gostas de ouvir?
Começou na barriga da minha mãe (risos). O meu irmão mais velho já ouvia metal, então
colocava os phones na barriga da minha mãe (risos). A medida que fui crescendo, fui sempre
ouvindo metal, simplesmente porque gostava mais desse tipo de música do que o restante
que a minha irmã e amigos ouviam. Os únicos metaleiros que conheci eram os amigos do
meu irmão que com o tempo seguiram a vida deles e fiquei sozinha (risos). Basicamente,
cresci em uma aldeia muito reservada em que fui maltratada por me vestir de preto todos
os dias e com t-shirts de bandas que as vezes são “agressivas” (risos) . É duro crescer numa
aldeia que és a única a ouvir este género de música. Não tinha amigos que ouvissem o
mesmo, até o meu 9º ano em que conheci três pessoas que ouviam metal da minha idade.
No secundário, conheci apenas o Marcelo, que faleceu com 18 anos, logo, a nossa amizade
foi demasiado curto, a vida dele foi demasiado curta. As primeiras bandas que ouvi e que
me recordo foram: Iron Maiden, Metallica, Manowar, Sepultura, Pantera, Black Sabbath,
Megadeath. Não posso escolher um álbum (risos) é impossível, ouço vários de várias
bandas. No entanto, por motivos pessoais, há um álbum que sempre me vai acompanhar :
“Black Album”, dos Metallica, era o álbum que o meu irmão usava para me adormecer e
que alguém muito especial que já partiu, tocava guitarra para mim. De resto, não consigo
escolher.
E assim terminamos esta entrevista. Quero agradecer-te pela tua disponibilidade! Muito
obrigado! E estas últimas linhas estão à tua disposição para dizeres o que quiseres.
Muito obrigada pelo convite pelo apoio. E obrigada a todos os que têm dado o seu apoio
aos meus projectos, farei sempre o meu melhor.
Entrevista realizada por Marco Santos para a ODE LUSITANA