Reportagem de Margarida Salgado e Fotos de Pedro Fernandes
No passado dia 30 de Setembro, aquando o concerto de Redlizzard, tivemos uma conversa bem disposta com os membros da banda.
SR: Gostaria que começassem por se apresentar.
Elvis: Nós somos os Redlizzard, vai fazer 10 anos que andamos nisto e andamos com muito gosto pelo que fazemos e estamos cá para mais 10 se for preciso a fazer o que gostamos, pelo menos.
SR: Começando mesmo do principio. Porquê Redlizzard? Foi só mesmo porque foi algo que vos soou bem ou há mais algum outro motivo?
Elvis: Epa… essa pergunta já tem 10 anos. Vamos dar qual? Qual é a resposta que queres? (risos)
Patrick: Queres a resposta oficial ou não oficial? (risos)
Elvis: Nós somos uma banda que tem influências de 40, 50 anos, algumas até 60 anos e mais recentes também e achamos que Redlizzard era um nome que se enquadrava naquilo que as nossas influências são, a nível de sonoridade e nome de banda, para aquilo que pensávamos que queríamos fazer de início, a nível de som. Nós sempre quisemos fazer uma coisa: rock. Rock é muito abrangente, mas nós nunca nos limitamos a nada. Poderíamos ir para a esquerda, para a direita, para a frente, para trás, mas sempre dentro do rock e o nome da banda obrigatoriamente teria que ter a ver com isso. E Redlizzard, a nível de métrica e como soava, encaixava naquilo que queríamos fazer.
Gerson: Mas é engraçado porque quando entrei para a banda achava que era porque metade da banda era Sportinguista e a outra metade era Benfiquista. Eu estou no meio porque sou do Vitória de Setúbal. (risos)
Rick: Essa é a versão simples. Cada vez que nos fazem essa pergunta temos sempre uma resposta diferente. É um mistério o nome da banda. (risos)
Elvis: Até porque os fundadores da banda um era benfiquista e outro era sportinguista.
Patrick: As pessoas começaram a questionar-nos isso e começamos a levar a cena para a brincadeira. Mas foi mera coincidência.
Elvis: Acho que já demos umas 20 respostas diferentes a isso. (risos)
Rick: Eu tenho uma teoria: todas as boas bandas têm um nome estúpido e é mais por aí. (risos)
SR: E como começaram? Foram amigos que se juntaram? Foi algo ponderado?
Patrick: Eu e o Ricardo já andamos há muitos anos juntos nisto, vai fazer 25 anos que andamos juntos tivemos várias experiências, uma cena mais alternativa, depois conheci o Elvis e começamos a trabalhar numas coisas e como é natural lembrei-me do Ricardo e puxei -o para isto.
Elvis: Eu comecei em bandas de covers, mesmo no início dos anos 90, (91, 92), tocava em bares e isso, mas depois a minha vida, a malta com quem me dava não era tão ligada à música e acabei por me afastar um bocado. Entretanto conheci o Patrick, há cerca duns 16 anos atrás, mais coisa menos coisa e criou-se ali uma empatia e ele acabou por me convidar para voltar às lides. Antes de Redlizzard tivemos um projeto com cerca de um ano e depois mais tarde quisemos criar Redlizzard, a química já estava criada e funcionava e assim foi.
Patrick: Foi então que puxamos o Ricardo para este projeto.
Elvis: Eu pessoalmente já não conhecia ninguém da música em Almada, mas o Patrick disse logo que conhecia um bom baterista e lá teve que ser. (risos)
Patrick: Entretanto arranjamos aqui a última aquisição (Gerson) há 3 anos atrás e tem sido uma boa aposta.
SR: Sim, porque existe uma diferença quando a banda ainda está a ser criada e estão todos os elementos numa fase de adaptação e a banda já funcionar e ter a sua própria energia, certo?
Gerson: Nisso eles deixaram- me muito à vontade. Eu senti-me como se sempre tivesse feito parte desta banda. Para mim tem sido uma excelente aposta. A nível de carreira, para mim como jovem artista também foi muito bom, devido à experiência que eles já tinham. Eu podia ter a formação que tinha a nível musical, ou seja eu tinha a teoria, mas eles tinham a prática, então eles é que me têm ajudado muito a crescer, não só como músico ou artista, mas também como amigos que são, como família que são, porque esta banda é uma grande família. Eles são muito exigentes, o que é bom para mim que gosto de desafios, mas eu por outro lado como eles já andam nisto há muito tempo não deixo apagar a chama que eles têm, porque eles são excelentes músicos. Desde o início que me apaixonei pelo projeto e disse: não vamos deixar isto morrer. Pode custar um bocadinho no início e temos feito todos os sacrifícios necessários para isso, mas sempre disse que nós vamos conseguir levar isto para a frente, tenho fé neste projeto. E então cá continuamos e continuamos a lutar e não perdemos o foco.
Patrick. Ele tem uma excelente voz e traz este “sangue na guelra” e esta energia e isso é sempre bom.
Elvis: O Gerson entrou muito bem. Ele encaixa muito bem em tudo. Tanto a nível de ambiente, como a nível musical, a nível de composição, ele conseguiu entrar de uma forma muito natural e isso foi importante. Não houve nada forçado, zero. Nós demos-lhe o espaço dele, ele deu-nos o nosso espaço e correu lindamente.
Patrick: Como dissemos no início, nesta banda nós não definimos limites, não há regras. A primeira coisa que fizemos ao Gerson foi: traz uma música tua. Sê tu, transforma as coisas que aqui estão, mesmo as que não foram cantadas por ti em coisas tuas.
SR: A vida de músico não é fácil, pois não? Tem que se gostar e acreditar muito no que se está a fazer?
Patrick: Nós crescemos todos aqui na Margem Sul, e somos todos músicos e todos já tivemos alguns projetos, vivemos naquela fase áurea musical.
Rick: Cheguei a ouvir chamar Almada de Liverpool português.
Patrick: Quando começamos à 10 anos atrás, essa fase já tinha passado. Isso causou algum impacto em nós que estávamos habituados a ter um ambiente completamente diferente aqui, mas tentámos ir á conquista do país, foi difícil, a tentar fazer o nosso melhor e há- de sempre ser uma luta. E já fizemos tudo e não esmorecemos e havemos de conseguir o nosso intuito. Há pessoas que gostam, há outras que não gostam, há quem fale bem e quem fale mal…
Elvis: Acho que o nosso intuito e o mais importante é continuarmos a tocar e fazer aquilo que gostamos. Neste momento é praticamente à nossa conta. Pagam-nos sim, é verdade, em algumas situações. Mas nós gostamos do que fazemos.
Patrick: Não é fácil ter um emprego “nine to five” e depois ir ter ensaios até às 4h da manhã. O Gerson pela primeira vez está a experimentar isso.
SR: Como é para vocês tocar em Almada?
Patrick: Tocar em Almada é sermos recebidos em nossa casa.
Rick: Acresce sempre uma responsabilidadezinha maior. Almada sendo a terra de músicos que é há sempre aquela sensação… Antigamente, há uns 15 ou 20 anos atrás, quando vinhas tocar em Almada ninguém se mexia. Estava todos de braços cruzados a olhar para ti. Porquê? Porque a plateia toda eram músicos. Hoje em dia isso já está um bocadinho diferente, infelizmente. Mas tocar em Almada é sempre especial para nós.
Patrick: A nossa geração esmoreceu, depois muitos já não gostam da mesma coisa que nós…
SR: E tocar em Almada comparativamente a tocar com Bom Jovi para aquele “mar” de gente?
Rick: A responsabilidade é a mesma. Estejam 3 pessoas ou 70000, a responsabilidade, a atitude é a mesma. A grande diferença é quando sobes ao palco tens uma “ parede de som ”. É giro.
Patrick: É uma experiência enriquecedora, uma experiência de vida. Mas infelizmente a nossa realidade não é essa.
SR: E em termos de empatia com o público?
Rick: A energia é diferente, claro.
Patrick: A sensação que tivemos no dia e na altura foi que tivemos um bocado de sorte porque apanhamos uma fase em não havia muitos concertos aqui em Portugal e naquele dia toda a gente estava lá. Pensávamos que íamos tocar para 20000 pessoas (o que já é um feito), que chegávamos lá e não estava lá ninguém, aquelas coisas normais… e para nosso espanto quando começamos a tocar o público estava até perder de vista. As pessoas foram todas para lá, queriam ver concertos e festejar e tivemos sorte nesse sentido, das pessoas estarem com esse espírito. Muita gente viu-nos e gostou.
SR: Acham que esse concerto deu um impulso à vossa carreira?
Patrick: Acho que foi o contrário, acho que passámos uma fase completamente oposta. Houve uma retração em relação a isso. Não fomos tocar com Bon Jovi nas mesmas condições que muitas bandas vão tocar a abrir concertos para outras bandas internacionais. Existe muita influência neste meio e se não conheceres ninguém não fazes nada.
Elvis: Houve um concurso e o que nós acabámos por perceber foi que foi o management de Bon Jovi que nos escolheu. Tu tens concertos grandes com muitas bandas a tocar fora de contexto só porque as querem promover. Não é que as bandas não tenham mérito, como é óbvio, mas acho que deveria manter-se um contexto.
Rick: Mesmo no próprio dia o nosso maior apoio foi sem dúvida os Bon Jovi e todo o seu staff.
Elvis: Mas foi bom no aspeto de haver muita gente que nos ficou a conhecer. Ganhámos muitos fãs, eu comecei a aperceber-me disso nas redes sociais e isso foi sem dúvida a parte mais positiva.
Patrick: No fundo a música é isso, o que interessa são os fãs.
Elvis: Foi divertido, foi ótimo conseguirmos tocar para 56000 pessoas que aderiram. Conseguimos puxar pelas pessoas, pôr toda a malta a bater palmas. Isso é um marco da nossa história, foi bom termos tido a oportunidade de fazer isso, que muitas bandas portuguesas não têm, infelizmente. Nós tivemos essa oportunidade e para nós acho que foi positivo. Faz parte do nosso percurso mas continuamos a lutar e a trabalhar.
SR: Em termos de músicas? Há pedidos especiais pelo público ?
Patrick: O público tem a tendência para as mais conhecidas, obviamente.
Elvis: Coisas mais antigas, principalmente.
SR: E são as que gostam mais de tocar ou já estão um bocadinho “ cansados ”?
Patrick: Sabes que a gente nunca toca duas vezes quase da mesma maneira. A gente revisita as coisas e agora fazemos acústico e depois quando voltamos para o elétrico já estamos a mudar coisas. As interpretações agora com o Gerson também são diferentes. Quando ele entrou foi logo uma “ lufada de ar fresco “. Ainda agora a preparar este concerto já mudámos coisas outra vez.
Elvis: São vozes diferentes, são registos diferentes, podemos experimentar outras coisas.
SR: E em termos de composição e letras quem trata disso?
Todos: Todos!!
Patrick: Aqui é sempre a ideia do trabalho de grupo. Tudo sentado, tudo a trabalhar sobre as coisas…
Elvis: Todos responsáveis, corra bem ou mal.
SR: O que podem contar sobre o novo álbum?
Rick: Temos 7 músicas quase prontas, estamos a gravar mais 3…
SR: Vai ser quantas faixas? Já sabem?
Rick: Não, o número ainda não está fechado. Isto é a vantagem de fazer as coisas com calma.
SR: E vai ser físico ou só download?
Patrick: Por enquanto ainda vamos fazer alguma quantidade de discos físicos, não muita porque não tem grande saída hoje em dia, acabam por servir apenas e bem para oferecer e para fazer algumas FNACS.
SR: E data de lançamento?
Patrick: Estamos a pensar lançar o single no início do ano, estamos a falar nisso.
SR: Como classificam o vosso som?
Elvis: Acima de tudo, rock. Temos coisas mais alternativas, temos o rock clássico, mas o denominador comum é aquele rock básico, clássico, não vale a pena complicar. Ao início notava-se mais as influências, hoje em dia tocamos mais para nós, são coisas mais nossas.
SR: Para terminar, qual a mensagem que gostariam de passar aos vossos fãs ou aquela mensagem que dão mais ênfase quando atuam ou aquele apelo que vocês gostariam de transmitir?
Elvis: O público português como acontece fora daqui, deveria apostar mais nos concertos de “ underground ” .
Rick: Era isso que ia dizer. É preferível dar 5 “paus” e ver 2 bandas ao vivo do que dar 5 “paus” para ver um “ gajo ” que nunca viste na tua vida, ouvir musica que nunca ouviste na tua vida, nem nunca mais vais ouvir. Só porque é o sítio da moda. É que nunca sabes, podes até descobrir a tua banda preferida, ao virar da esquina.
Patrick: Há que acreditar mais naquilo que é nosso e é feito cá.
Gerson: Gostaríamos também agradecer aos nossos fãs e amigos, que se não fossem eles a darem- nos força, isto não faria sentido. Não desistam de nós porque não também não vamos desistir.
Elvis: E agradecer a vocês e ao vosso trabalho de nos tentarem ajudar e incentivar. Vocês podem, conseguem, para nós é muito importante o vosso trabalho.
SR: Obrigada!
Reportagem de : Margarida Salgado
Fotos de : Pedro Fernandes