Com um choque de desfibrilador, Orphaned Land, Wolfbrigade, Fuse, Hypothermia eProcess of Guilt: é assim que o coração do SMSF Beja começa a bombear as primeiras voltagens para a edição de 2017, que decorre de 8 a 10 de Junho no Parque de Merendas da cidade alentejana.
Depois de uma edição bem-sucedida em Junho passado, com momentos indelevelmente marcantes quer para os presentes, quanto para o projecto artístico do festival, o mesmo espírito de cruzar risco, com atitude punk e discorrer sobre as linguagens da música extrema nas suas mais diversas encarnações, volta a pautar a oitava edição do SMSF.
À cabeça, vêm os Orphaned Land, com o seu cruzamento atípico das linguagens distantes do doom e do folk médio-oriental, uma carreira estendida para lá das duas décadas e uma vontade incólume de marcar socialmente uma diferença; a dividir protagonismo com eles, estão os suecosWolfbrigade, lendas do crust punk que prometem agir de acordo com o seu epíteto: cuspindo-nos em cima.
Na senda do desafio à normatividade do que se entende por extremo, surge o portuense Fuse: mais de duas décadas a agarrar o mic e a cuspir rimas de complexidade inolvidável, o rapper que cresceu em Dealema mas se fez MC nas suas incursões a solo, discorre de forma elaborada sobre a condição humana fazendo da ego trip uma viagem aos confins da psique sem retorno garantido.
A fechar as primeiras confirmações estão os suecos Hypothermia, que usam a depressão como catalizador do seu black metal, e os Process of Guilt, a braços com um sucessor para o aclamado “Fæmin” e com uma vontade renovada de vergar espinhas.
Os primeiros bilhetes já se encontram à venda por 20€, no caso dos ingressos para três dias, e por30€ o pacote com bilhete geral, t-shirt, saco e copo. Ambas as modalidades estão limitadas a uma centena e disponíveis apenas até 31 de Outubro. Depois dessa data, os preços de ambos os bilhetes sobem para os 30€ e 40€, respectivamente.
Mais informações:
Orphaned Land
O contexto social determina aquilo contra o qual um músico se revolta, uma ideia confirmada desde que música serve de veículo para desconforto ou como forma de rebelião. Quando aquilo contra o que se quer lutar é a luta em si mesmo, acontece algo como os Orphaned Land. Evoluir do prototípico doom melódico dos 90 para uma sonoridade cada vez mais progressiva? Nada de particularmente único. Fazê-lo com elementos de folk a permear a obra da banda do inicio ao fim? Menos comum, mas ainda assim mais que visto. Agora fazê-lo com folklore do médio oriente e uma mensagem abertamente política de unidade entre religiões, já começa a ser bem mais raro e é basicamente o que os Orphaned Land têm feito durante mais de vinte anos. Vislumbres do caminho percorrido até à actual encarnação progressiva serão certamente vistos em Beja, aquando do SMSF 2017.
Wolfbrigade
Fãs de crust, temos boas notícias para vocês. O lendário colectivo sueco Wolfbrigade tocará na edição de 2017 do SMSF! Da mesma forma que é impossível exagerar a importância do legado da banda, construído tanto na incarnação actual como nos anos de Wolfpack, o mesmo se aplica a uma tentativa de capturar uma descrição da ferocidade que espera aqueles que se atravessam à frente de uma das suas raras aparições ao vivo. Cada género tem as suas instituições e quando pensamos na escola Sueca de d-beat, poucos atingem o intocável estatuto dos Wolfbrigade, finalmente preparados para voltar a Portugal em Junho de 2017 pela primeira vez desde 2008. Quanto ao público, bem, hora de rejubilar em antecipação da inexorável chapada na cara que se adivinha.
Fuse
Esquece o modo, esquece a forma pela qual o hip-hop se manifesta, despoja o género até às suas raízes. O que encontras tem tanto de mentalidade punk na sua fundação como quase só o punk em si se pode gabar. Claro que o contexto importa e só assim se justifica a exagerada separação de público entre hip-hop e as outras formas pesadas de expressão musical – tudo barreiras imaginárias para serem deitadas for a no que depender do SMSF. Expressão, expressão visceral e intensa é uma boa forma de olhar para a produção de um dos maiores nomes nacionais do género, Fuse. Uma carreira com mais de vinte anos passados entre discos a solo, instrumentais horrorcore como Inspector Mórbido e os Dealema, e cujo próximo capítulo, “Caixa De Pandora”, tem lançamento marcado para o final de 2016. Com aquele que será o seu primeiro disco a solo em mais de dez anos, há todas as razões possíveis para receber Fuse no SMSF 2017.
Hypothermia
O Kim Carlsson é um tipo prolífico, facilmente identificável pelo seu característico berro, dos mais fortemente carregados de pranto e desespero que algum dia encontrámos. Porventura mais conhecido pelos Livelover – um capítulo que chegou a um fim abrupto numa inesquécivel performance no dia 11 de Setembro de 2011 em Roterdão -, antes de se juntar a B. e companhia já andava a destilar negatividade com os Hypothermia há alguns anos. Pese o similarmente enviesado caminho com black metal depressivo como ponto de partida, a longa discografia dos Hypothermia encontra-os agora numa fase repleta de atmosferas próximas do post-rock, não obstante a completa ausência de finais felizes e catárticos que se podia esperar, exemplo disso mesmo é “Svartkonst” lançado o ano passado. Quinze anos de miséria transformada em música para serem digeridos no SMSF 2017.
Process of Guilt