Reportagem | Vagos Metal Fest 2016
Depois das notícias que abalaram o mundo do metal, com o término do evento que reunia metaleiros de Norte a Sul do país na pequena localidade de Vagos, estávamos todos curiosos por ver como iria decorrer o Vagos Metal Fest. Numa organização em contrarrelógio que apresentou um leque bastante variado num curto espaço de tempo, e face ao feedback positivo que se ia ouvindo, as expetativas estavam em alta para o fim-de-semana de 13 e 14 de agosto.
Dia 1
Apolinário Correia (aka Sam Alone) teve a honra de abrir esta primeira edição do evento. Os irmãos Correia mostraram o seu trabalho de estreia “Act One” perante uma plateia já bem composta que não se mostrou indiferente à qualidade musical que vinha do cimo do palco. Rock psicadélico a abrir que ainda teve direito a um (para já) tímido crowd surfing, que continuou quase de forma ininterrupta a abrilhantar a prestação dos Franceses Betraying The Martyrs. Com um metalcore cheio de groove não foi difícil agradar à populaça que festejava de forma exuberante, terminando mesmo a sua atuação com a cover para “Let It Go”; mesmo a “frescura” do tema não foi capaz de acalmar o calor do público mas sim abrir caminho para Vektor que trouxe a Vagos um thrash progressivo que, como se esperava, foi executado de forma sublime como a banda tem vindo a mostrar nos seus registos. Por esta altura já se podia ver uma “casa” bem composta com bastante público a querer marcar presença para ver as suas bandas favoritas. E estas correspondiam com excelentes atuações como no caso dos R.A.M.P.; já todos conhecemos a garra que aplicam nos concertos mas neste em particular estiveram muito bem, com um Rui Duarte pleno de vitalidade a liderar Tó, Sales, Paulo e Ricardo para um fantástico concerto que agradou a todos. Os próximos em palco foram os Italianos Fleshgod Apocalypse, cuja atuação foi penalizada por alguns problemas sonoros no início. Apesar desses problemas técnicos conseguiram manter a postura e dar um bom concerto, deixando no ar uma vontade de os ver novamente, se bem que numa sala de espetáculos. Fica a sugestão para a promotora, um concerto em nome próprio. À medida que a noite ia chegando a temperatura caia bastante, como que premonitória para o black metal dos Suecos Dark Funeral, mas tardavam a ouvir-se os acordes negros. Tudo porque, como nos explicou Heljarmadr, a companhia aérea onde viajaram perdeu os instrumentos. Esta situação provocou um atraso de cerca de 20 minutos na sua entrada em palco, tempo para que a organização se desdobrasse (e muito bem) em esforços para arranjarem guitarras para eles tocarem. Para terminar a noite que continuava gelada mas quente em emoções, nada melhor que Rui Sidónio aos comandos da Bizarra Locomotiva para levar ao gáudio todos os presentes que exuberantemente cantavam temas como “O Cavalo Alado”, “Mortuário”, “O Anjo Exilado” e muitos outros sobejamente conhecidos. Oportunidade também para Muffy acompanhar Rui no tema “Escaravelho” quando este foi ter com ela ao meio do público. Após o final do concerto a festa continuou pelas mãos de António Freitas na sua atuação after party.
Dia 2
As honras de abertura deste segundo dia do evento couberam aos “locais” Godvlad. Um prémio merecido para uma banda que recentemente lançou “Dark Streets of Heaven” e que se está a promover de forma mais afincada, com constantes entrevistas e uma maior mediatização. Merecida, diga-se, pois é inegável a sua qualidade musical para além de terem uma belíssima bailarina na voz. Merecido também foi o convite feito aos Heavenwood para subirem ao palco e mostrarem ao público de Vagos o seu novo trabalho “Tarot of the Bohemians”; da sua atuação destaca-se a presença em palco de Sandra Oliveira no tema “The High Priestess”. Tempo agora para uma sonoridade de contornos mais negros trazido pelos Suecos Tribulation. Esta fusão entre o progressivo assente numa dinâmica ao estilo de Celtic Frost e um rock mais psicadélico envoltos numa negritude sonora foram mais que suficientes para agradar aos presentes, mesmo aqueles que não são destas andanças. Claro que não nos podemos esquecer da postura em palco de Adam e Jonathan que, para além de excelentes executantes, têm também uma presença excecional em palco. Os Britânicos Discharge subiram ao palco e logo mostraram ao que vinham: hardcore punk puro e duro, sem abrandamentos. Estes quarentões pioneiros do D-Beat e hardcore punk não pararam, música atrás de música acompanhados de mosh pit atrás de mosh pit. Certamente uma das maiores explosões de adrenalina de todo o evento. Já com a noite a instalar-se vieram os elfos negros Finntroll que, com a sua energia e vivacidade, animaram a festa e ajudaram a combater o frio que se ia instalando no recinto. Uma das bandas mais esperadas da noite entrou em palco ao som de “Walls of Jericho”, música que simboliza onde tudo começou. Já todos conhecemos a qualidade do power metal dos Alemães Helloween mas nem por isso afrouxaram e deram um concerto memorável, cheio de alegria e jovialidade. Mesmo os de ritmos mais pesados ficaram rendidos à sua prestação que incluiu temas retirados de quase todos os seus álbuns, numa espécie de best-of ao vivo, onde não podiam faltar os solos de guitarra de Sascha Gerstner e de bateria de Dani Löble. Sem dúvida um dos melhores concertos a que Vagos já assistiu. Só faltava mesmo a banda que iria fechar o evento, Moonspell. O seu valor é reconhecido por todos, cá e além-fronteiras, e por isso não se entende porque não tinham ainda tocado em Vagos. Como disse Fernando Ribeiro “Finalmente Moonspell em Vagos”, ao que o público respondeu com uma grande ovação. Neste concerto, para além das músicas do último “Extinct” a banda revisitou temas como “Opium”, “Awake” ou “Mephisto” retirados do álbum “Irreligious”, que este ano faz 20 anos desde o seu lançamento. Num concerto a todos os níveis memorável (aonde não faltou pirotecnia), com grande paixão e entrega por parte da banda e muito bem correspondida pelo público, esta foi a cereja no topo do bolo que foi esta primeira edição do Vagos Metal Fest. Como na noite anterior, a festa continuou noite dentro com o after party de António Freitas e da Rockline Tribe.
Conclusão
Da desilusão da notícia de que não ia haver festival à massiva aderência por parte do público (cerca de 10 mil pessoas) a esta organização em contrarrelógio. Provou-se que Vagos é, sem sombra de dúvida, a Meca do metal em Portugal e um ponto de encontro para todos os amantes de sonoridades mais pesadas. A escolha por um cartaz diversificado capaz de agradar a Gregos e Troianos revelou-se uma boa aposta que espero se venha a manter no futuro. A coragem de se terem cabeças-de-cartaz nacionais num cartaz cerca de 40% nacional é de louvar. Todos estes e muitos outros aspetos fazem do Vagos Metal Fest o que ele é, um evento de todos e para todos. Um agradecimento final ao Paulo Teixeira (Som do Rock) pela oportunidade, à organização do evento e à Inha & Maria Luis. Até Vagos!
Texto: Cristina Silva
Fotos cedidas por Davi Cruz